A despeito das crises e das guerras
O receio de algumas pessoas (e empresas) de que o ESG fosse passageiro, fosse “modismo”, fosse “marketing”, ou mesmo que fosse voluntário (optativo), gerou alguns “debates” em 2022, em função de fatores como crise econômica mundial, crise de suprimentos em alguns países, guerras, aumentos de custos e de inflação, bem como de juros, crises energéticas, ou ainda de temas políticos, dentre outros.
A dificuldade para se encontrar efetivos e concretos avanços em negociações internacionais, que na prática ainda seguem um tanto “estacionadas”, também gerou especulação sobre o que aconteceria com as pautas da sustentabilidade e do ESG.
Dúvidas em relação a movimentos tão grandes e complexos, que são mesmo afetados por várias questões, e que podem ser impactados por crises, são legítimas, mas felizmente esse receio está cada vez mais reduzido e localizado.
O que se avalia e discute em algumas regiões, em alguns setores e em alguns aspectos, é muito mais a velocidade das adaptações, e dos ajustes necessários, do que a sua implementação.
Realmente o mundo tem atravessado um período bastante desafiador nos últimos anos, em praticamente todos os países, e todo esse cenário nos afeta (a todos), tanto que vivemos uma das principais crises sociais, sanitárias, humanitárias e econômicas do nosso tempo, mas tudo indica que serão essas “crises e dificuldades” que terão que ser enfrentadas e vencidas, e não o ESG.
Na verdade, para quem ainda temia que o ESG fosse “passageiro”, a realidade tem mostrado que o contrário é que deve ocorrer; uma vez que justamente uma das bases das mencionadas crises, e dos desafios que lhes acompanham, é a questão do cuidado (ou da falta dele), com as pessoas, com a fauna e com a flora, com as águas (em todos os seus aspectos), com o solo e as matas, os “lixos”, e assim por diante – que por seu turno causam muitos dos desastres (“naturais” e humanitários).
O cuidado e a atenção de governos e de empresas com todo esse contexto deve, e precisa, aumentar nos próximos anos, dada a exaustão de modelos anteriores, já exauridos, justamente numa tentativa urgente e global de “salvar” as pessoas – e o próprio planeta.
Alguns setores e organizações terão mais facilidade para lidar com o que precisa ser feito, e conseguirão adequar suas práticas de maneira mais rápida (e talvez com menos investimentos) do que outros, mas é importante que ninguém se engane. O ESG veio para ficar e é ligado a todos!
O ESG não vai passar, não vai acabar, a despeito dessas e de outras questões e dificuldades, e mesmo das crises (atuais e futuras) pois é uma nova mentalidade corporativa, uma nova mentalidade de negócios, mais moderna e atualizada, mais consciente e mais responsável, que contempla um novo modelo de negócios, que agora precisa ser mais sustentável.
Empresas que realmente entendem que modelos antigos e não sustentáveis, por vezes não comprometidos com as questões sociais, humanas e ambientais, já não são possíveis, sabem (também) que esse novo “modelo” é não apenas mais sustentável em termos ambientais e sociais, mas mesmo econômicos – gerando mais valor aos produtos e aos serviços, assim como para as organizações, que valem mais, lucram mais e duram mais.
Nem todos os colaboradores nas organizações, assim como nem todos os parceiros comerciais, e mesmo nem todos os clientes e consumidores já estão demandando de forma firme e forte que as “mudanças” ocorram, mas essa pressão está aumentando – e logo será tão impactante que será ainda mais urgente; sob pena das empresas que tentarem resistir estarem com “seus dias contados”.
O novo conceito de se “fazer o certo”, em todos os aspectos, no ambiente corporativo, por vezes demanda ajuste mais profundos e investimentos mais altos, bem como planos de transição um pouco mais longos, mas a experiência tem mostrado que não apenas é o certo e o necessário, como também que os modelos “antigos” já não são mais viáveis. Ou seja, não há como defender que ESG seja optativo ou apenas para “alguns”.
Parte do que hoje ainda é identificado como ESG logo passará a ser obrigatório, em função de movimentos legislativos e normativos/regulatórios ao redor do globo, além de acordos internacionais e demandas institucionais, o que “por si só” já retirará o aspecto “opcional e eventualmente passageiro”, mas o tema ESG seguirá não apenas de forma permanente e contínua, como de maneira evolutiva. Ou seja, as metas serão (inclusive) aumentadas com o tempo, para que os padrões mínimos de cuidados sociais e ambientais sejam ainda maiores e melhores.
A verdade é que quem “demorar” a perceber a urgência e a magnitude da questão, estará perdendo tempo, dinheiro, e talvez o próprio negócio. O que está “errado”, precisa ser corrigido!
Esse conceito se fundamenta em diversas bases, entre elas a própria observação dos fatos e do que eles nos ensinam, como por exemplo o “caos” energético e de suprimentos, e do aumento da fome, em quase todo o mundo, nos últimos tempos. Em outras palavras, a mera observação das principais causas do que temos visto já demonstram que os “modelos antigos” estão (ou estavam) errados.
Tais questões comprovam que é preciso que sejam encontradas soluções urgentes, mais sustentáveis, e mais adequadas, para o futuro, que dependam cada vez menos de combustíveis fósseis, abandonando de forma crescente o petróleo, o gás e o carvão, por exemplo, ao mesmo tempo em que as mudanças climáticas demonstram que a fauna (inclusive nos aspectos ligados a desmatamento e queimadas), as águas e o solo precisam ser tratados com mais respeito e cuidado. E que temas como as crises alimentares e humanitárias precisam ser enfrentadas com seriedade, sem contar o absurdo e global problema do “lixo”, e o do desrespeito às pessoas.
Nas empresas que já perceberam a força e a importância da governança corporativa, assim como do “compliance” o caminho tende a ser mais rápido e firme, ao passo que em outras talvez ainda demore um tempo e encontre algumas resistências, mas com o tempo todas perceberão que o ESG é necessário, é positivo, e é bom para todos.
A maioria das empresas já sabe que o mais importante é encontrar maneiras de adequar os seus modelos à nova realidade, pois as ditas dificuldades serão ainda maiores com o tempo, e se houver demora, os ajustes, depois, terão que ser ainda mais rápidos – e custar ainda mais.
A própria lógica dos negócios está mudando, e mudará ainda mais, de forma que as bases do ESG não apenas permanecerão, como serão aumentadas nos próximos anos. Engana-se quem está apostando em outra direção.
Temos que entender e respeitar as crises sim, e será necessário sim, encontrar caminhos e alternativas para as dificuldades que se apresentam; assim como para outras que virão com o tempo, mas não será realista acreditar que o ESG, como trajetória, não se sustentará.
O caminho não é e não será fácil, e nem livre de atenção e de desafios, mas é um “caminho sem volta”, que está sendo pavimentado (de forma “definitiva”) em todo o mundo, e em todos os setores, segmentos e aspectos.
Momentos de crises são também momentos de incerteza e de receios, bem como de desafios, mas também de se identificar oportunidades, de serem apresentadas inovações, e de serem fomentadas práticas melhores – que não devem ceder espaço a retrocessos e nem a atrasos; pois é importante que o mundo (inclusive o corporativo) efetivamente evolua.
Muitas das práticas corporativas que ainda eram toleradas no Século XX, por diversas razões e em diversos setores e lugares, já não o são. E mais “cobranças” por respeito aos pilares ESG estão chegando todos os dias, no mundo todo. Em outras palavras, esse novo cenário “não tem volta”.
Reiteramos que as crises, assim como as guerras, precisam ser respeitadas sim, e enfrentadas com cuidado e responsabilidade, para que sejam vencidas, mas elas passarão, o ESG não.
Se a sua empresa ainda não conseguiu implementar efetivamente um programa e uma mentalidade ESG, e se ainda existe no seu contexto, quem acreditasse que as crises poderiam “frear” a transformação corporativa por ele defendida, o melhor caminho será justamente conhecer mais e melhor as premissas da sustentabilidade plena; com especial atenção para o que ainda pode ser feito em etapas, e conforme planos de transição, o que também significa investimentos menores – enquanto é tempo.
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