A integração entre equipes de diferentes países ajuda empresas a enfrentar cenário complexo de riscos ao mesmo tempo em que desenvolvem programas maduros e orientados ao resultado e à sustentabilidade do negócio
As transformações observadas nos anos recentes têm exigido das organizações uma visão mais abrangente e globalmente integrada para fazer frente ao gerenciamento de riscos comuns em diferentes mercados e decorrentes do panorama social, econômico e político mundial. O contexto de pandemia fomentou a adoção de ferramentas que contribuíram para aumentar a integração entre as áreas de Gestão de Riscos e Compliance de empresas multinacionais.
Ao passo que fazer parte de um grupo internacional, em alguns casos, acaba gerando trabalhos duplicados para adaptar relatórios que sejam aderentes a cada ambiente regulatório, esta potencial ineficiência pode ser compensada pela troca de conhecimento entre as diversas geografias e a possibilidade de compartilhar conhecimento, normativo e treinamentos já desenvolvidos.
Mesmo que antes já houvesse a prática de troca de experiências e encontros regulares por meio de comitês globais, os mecanismos implementados nos anos recentes, a maior aderência das equipes a esses recursos e a implementação de rotinas de conferências regulares permitiu às áreas equivalentes, nos diferentes países em que determinadas companhias atuam, ganhar maturidade e assertividade nos processos de revisão dos Programas de Gestão de Riscos e Compliance.
Ainda que companhias multinacionais já estejam atentas à legislação internacional e dos mercados específicos em que atuam, é sabido que não basta apenas estar alinhadas à Convenção da OCDE, à FCPA, ao UK Bribery Act e as normativas legais brasileiras anticorrupção, contra lavagem de dinheiro e outros. Para garantir a integridade das organizações, a cultura de compliance e gerenciamento de riscos deve permear toda a companhia, estar alinhada e ser definida com base nos objetivos estratégicos de negócios. Com isso, cada mudança de rota ou imprevisto pode gerar alertas para avaliação de cenários e tomadas de decisão que venham atingir desde mercados locais até mesmo a organização em âmbito global.
Não é para menos que, com todos os reflexos sociais e econômicos em decorrência da pandemia, muitas rotinas e políticas de compliance tiveram de ser revistas. Para contornar o distanciamento social, os processos online foram intensificados. Com isso, o volume de dados circulando nas redes aumentou exponencialmente e mais dados sensíveis passaram a ser compartilhados. Outro ponto é que, no processo de adaptação, novas estratégias de negócios tiveram de ser adotadas, em alguns casos, para garantir a sobrevivência e continuidade do negócio. Como consequência, novos riscos foram identificados e tiveram que contar com a ação das áreas de gestão de risco e compliance para serem mitigados.
Aliado a isso, em companhias com grau avançado de integração e maturidade, as práticas de ESG (práticas Ambientais, Sociais e de Governança) e DE&I (Diversidade, Equidade & Inclusão) e a relação destas com os propósitos, ambições e atributos de cultura também passaram a configurar item de debate nos comitês de compliance e gerenciamento de riscos.
A exposição a riscos aumentou exponencialmente, da mesma forma que as atribuições e responsabilidades das equipes também. Com isso, os assuntos relacionados a Gestão de Riscos e Compliance passaram a ser mais frequentes e ocupar cada vez mais tempo das reuniões no nível de alta administração. Isso tem ajudado na consolidação do envolvimento dos gestores de risco e compliance no desenvolvimento das estratégias de negócios.
Um levantamento da FERMA – Federation of European Risk Management Associations aponta que o papel da área de Gestão de Riscos e Compliance tem evoluído e assumido responsabilidades adicionais, como a gestão de crises e continuidade de negócios; para poder transmitir uma visão clara e abrangente para a alta gestão e fazer frente à necessidade das companhias de se manterem resilientes.
Nesse contexto, contar com o suporte de uma rede formada por equipes dedicadas em diferentes partes do globo pode configurar um fator de vantagem competitiva importante. Ao tomar conhecimento do panorama, mudanças e soluções propostas ou implementadas em outros mercados; executivos e especialistas têm mais subsídios para propor as eventuais adaptações, ajustes ou revisões de condutas a serem colocadas em prática localmente, bem como projetar o reflexo destas ações em toda a organização e no relacionamento com os públicos de interesse (fornecedores, clientes etc.).
Com isso, a alta gestão da companhia pode receber um retrato mais realista e ter mais segurança na tomada de decisão para evoluir no planejamento e investimentos de recursos que vão adequar as necessidades corporativas em um panorama de mudanças, em que o compromisso sólido com a ética, a conformidade e a transparência é, cada vez mais, requisitado num contexto de riscos complexos. Além disso, mesmo que uma “tempestade perfeita” de eventos tenha resultado em riscos emergentes a serem acompanhados no curto, médio e longo prazos; as empresas e organizações têm a oportunidade de evoluir em seus mecanismos de gestão para minimizar os efeitos de um cenário que se mostra desafiador. Porém, se bem administrado com o suporte de programas de Gestão de Riscos e Compliance robustos; esse novo horizonte pode resultar em estratégias inovadoras que contribuam para alcançarmos um ambiente de negócios mais sustentável.