Quem nunca ouviu o provérbio popular de que “prevenir é melhor que remediar”? No âmbito das fraudes, ele também é válido e aplicável, mas quais seriam na prática os desafios desta prevenção nas empresas? Para responder a esta questão, eis a seguir uma lista de alguns desafios, sem esgotar o tema e sem considerar uma ordem pré-definida de relevância:
1° Desafio: O tempo na busca da violação do sistema geralmente é maior do que o tempo dedicado a sua prevenção.
Como dizem: “o fraudador só pensa naquilo” e passa o tempo todo buscando meios, oportunidades e fragilidades para violar os sistemas e controles existentes. As áreas ligadas à prevenção passam geralmente menos tempo em criar, revisar, atualizar e reforçar os controles do que o fraudador em tentar quebrá-lo.
2° Desafio: Risco da acomodação e negligência.
Muitos não se lembram da importância da segurança e dos controles quando tudo está indo bem. Nesta situação, há grave risco da acomodação e de se negligenciar as ações nesta área. Os controles não podem ser estáticos e necessitam de atualização permanente, independentemente da existência ou não de ocorrências.
3° Desafio: Gastos com prevenção são vistos como despesas e não como investimentos.
Os gastos com prevenção, infelizmente, em muitas empresas, são vistos como despesas e não como investimentos. Como há dificuldade de se medir as possíveis perdas e contingências evitáveis, de se comprovar o ganho na redução dos riscos de fraudes e/ou de se mostrar claramente o retorno do investimento aplicado na prevenção, fica difícil mudar esta concepção limitada a este respeito.
4° Desafio: O fraudador geralmente é um colaborador interno, que conhece as fraquezas e age sorrateiramente.
“O inimigo mora ao lado”, como diz o ditado popular, ou, no caso, dentro da empresa. Ele se aproveita da confiança nele depositada para sondar os controles existentes, buscar informações privilegiadas de suas deficiências e explorá-las no momento oportuno, de forma sorrateira. Torna-se um grande desafio identificá-lo preferencialmente antes de sua ação ou, pelo menos, tempestivamente logo após a sua realização.
5° Desafio: Apatia da gestão com a segurança, o controle e a prevenção.
“O exemplo vem de cima”, dizem muitos. Se a própria gestão da empresa não está comprometida com a segurança, o controle e a prevenção, esta tarefa ficará extremamente difícil de ser executada de forma integrada e global dentro da empresa. Não se pode acreditar que haja realmente um comportamento efetivo dos colaboradores neste sentido se os próprios gestores não o têm. Neste sentido, muito bem prediz Michael Comer: “a essência de qualquer fraude bem-sucedida é que as pessoas honradas não suspeitem: o mal triunfa quando a gente de bem não atua” e um ditado que diz: “o risco não está no que se faz, mas na falta de controle sobre o que se faz”.
6° Desafio: Ausência de pessoas, áreas ou unidades especializadas na prevenção dentro das empresas.
Infelizmente, nem todas as organizações possuem pessoas ou unidades de Auditoria Interna, Controles Internos, Compliance, Gestão de Riscos, Prevenção e afins, que possam trabalhar de forma integrada e especializada na prevenção de fraudes e perdas. Quando tem, são estruturas reduzidas e/ou com pouco investimento em treinamentos e capacitações técnicas adequadas.
Enfim, apesar dos desafios, dificuldades e limitações organizacionais, investir na prevenção geralmente gera maiores resultados, do que se agir reativamente, mesmo estando consciente de que não existe segurança cem por cento. A questão é diminuir consideravelmente o risco de exposição a fraudes, mantendo os controles sempre atualizados e efetivos, investindo em treinamentos dos colaboradores, implantando um canal de ética ativo, tendo áreas de controle atuantes, elaborando, divulgando e exigindo o cumprimento rigoroso das normas e do código de ética.
Humberto Ferreira Oriá Filho é administrador, contador, bacharel em economia, especialista em auditoria interna e mestre em controladoria. É autor do livro “As fraudes contra as organizações e o papel da Auditoria Interna”.