Buscar o entendimento de qual é a relação entre ESG e Compliance é um exercício válido não apenas para achar os pontos de intersecção, mas também para entender o que pode ser feito de forma prática, cooperando com as áreas.
Antes de aprofundarmos no assunto, vale lembrarmos que ESG (Environmental, Social and Governance) representa uma abordagem de questões ambientais, sociais e de governança corporativa para as companhias dos mais diversos segmentos e portes.
Quais os pontos de intersecção entre Compliance e ESG?
A integridade é o propósito do Compliance e o profissional do ramo precisa ir além da observação da lei, pois é necessário ter uma noção maior e geral da integridade do negócio para que as relações comerciais e humanas sejam transparentes, éticas e íntegras.
É por isso que o ESG está alinhado com o Compliance, já que é necessário não só estar em conformidade, mas ser íntegro para impactar o cenário atual e também as próximas gerações, pensando no meio ambiente, na sociedade e na perenidade da empresa.
Muitos dos temas abordados no ESG já contam com previsão legal, como é o caso de leis ambientais, trabalhistas e de padrões sociais. Dessa forma, para um programa de integridade se adaptar às pautas de ESG, primeiro é preciso garantir que toda a legislação ambiental está sendo cumprida pela empresa.
Depois, é preciso verificar a legislação trabalhista, se há diversidade na empresa, etc. Além disso, é importante ter um olhar estratégico, pensando em implementar políticas que ajudem a criar a materialidade dessas pautas de ESG para a companhia — definir temas relevantes para a realidade da empresa e implementar juntamente com a liderança.
Entender se a Governança está engajada é essencial, pois se ela não estiver, é preciso pensar em ações táticas, como colocar nas pautas do comitê de ética e do comitê de riscos, assim como levar os assuntos para o conselho de administração e de auditoria, por exemplo.
Isso tudo para mudar a realidade da empresa que conta com uma liderança insensibilizada aos assuntos de ESG. É importante fazer com que a governança tenha noção dos pontos de vulnerabilidade e que, ao visualizar a matriz de riscos, não veja apenas itens de conformidade, mas também itens estratégicos em relação ao ESG.
O que pode ser feito de forma prática?
De acordo com Marilia Zulini da C. Loosli e Onara Oliveira de Lima – Superintendentes de Compliance e ESG no Grupo CCR —, no grupo em que trabalham, a vice-presidência de GRC+A (Governança, Riscos, Compliance, Controles Internos e Auditoria Interna) absorveu a responsabilidade de reestruturar a já existente área de sustentabilidade.
Dessa maneira, a área passou a organizar e desenvolver as atividades relacionadas ao meio ambiente, impacto às comunidades e gestão do capital humano, que tocam nas áreas sociais e ambientais (correspondendo ao ‘S’ e ao ‘E’ da sigla ESG). No caso da governança (o ‘G’ da sigla ESG), todas as áreas são englobadas, para que a liderança compreenda e esteja engajada com todas as pautas que envolvem ESG e Compliance.
Apesar de as atividades serem conceitualmente distintas, como combate a corrupção e proteção ao meio ambiente, a forma de desenvolver o trabalho é totalmente complementar.
Marilia e Onara deram alguns exemplos práticos:
“O processo de aculturamento, dada a transversalidade do ESG, todo o aprendizado estruturando o Programa de Compliance, captando o apoio da alta e média liderança e disseminando a cultura da ética e da integridade nos negócios do Grupo CCR, com comunicação, treinamento, embaixadores de Compliance, elaboração de políticas e procedimentos, podem ser aproveitados pela área de ESG.
Fazendo analogia com os nossos negócios, é como se as áreas de GRC+A tivessem pavimentado um caminho para o ESG, que agora constrói pontes conectando as áreas social e de meio ambiente, que antes estavam dispersas nas unidades, com a governança corporativa.
Desde o início do ano, vamos juntas em visitas às unidades, aplicamos treinamentos, apresentamos as áreas e colhemos informações para o risk assessment e atualização da nossa matriz de riscos. O processo de due diligence de terceiros, já estruturado e consolidado há mais de três anos no Programa de Compliance do Grupo CCR, foi ampliado para incluir pesquisas de histórico reputacional e temas relevantes para o ESG”.
Quais as diferenças entre Compliance e ESG
As semelhanças são maiores que as diferenças, principalmente na forma de atuação dos programas, com análise de riscos, comunicação, treinamento, coleta de indicadores, apoio da alta e média liderança, alocação de recursos e autonomia de atuação, due diligence e controles internos.
Segundo Marilia Zulini e Onara Oliveira, “talvez a maior diferença seja no foco das matérias tratadas”.
Isso porque o Programa de Compliance teve como normas regulamentadoras a Lei Anticorrupção (12.846/13) e o Decreto Anticorrupção (8.420/15), inicialmente com o foco na prevenção à corrupção de agentes públicos.
O aprimoramento do Programa de Compliance levou à ampliação de sua abrangência para garantir e monitorar o cumprimento das leis aplicáveis em geral e a disseminação do comportamento ético dos colaboradores e terceiros, em todas as relações da empresa.
Já o ESG, tem como foco a governança, políticas e controles relacionados a gestão do capital humano, com saúde e segurança, ambiente de trabalho (diversidade, engajamento, atratividade de talentos), relação com as comunidades, e meio ambiente, com biodiversidade, mudanças climáticas, sustentabilidade, redução da emissão de carbono, utilização de energia.
Ainda com as diferenças entre matérias tratadas como foco, entendemos como ambas são áreas relacionadas e complementares.
Quais os benefícios de ter um programa que envolve ESG e Compliance?
É importante compreender que não são dois tipos de programas diferentes. Por serem complementares, trata-se de um sistema de gestão único, que inclui, de maneira sinérgica e eficiente, as áreas de Governança, Riscos, Compliance, Controles Internos, Auditoria Interna e ESG.
Assim, a empresa conta com ações eficazes que priorizam o estabelecimento de políticas e controles, gerando valor agregado para a companhia e seus acionistas, além do impacto ambiental e social, como consequência.
Quais as tendências em relação ao Compliance e ESG?
Muito tem sido falado sobre ESG e Compliance, mas é importante que uma empresa não se limite às palavras. Ainda segundo nossa conversa com Marilia Zulini e Onara Oliveira, elas afirmaram:
“Para os consumidores e sociedade em geral, o engajamento efetivo da empresa, com ações concretas, deve ser valorizado. Não adianta apenas falar, a sociedade quer ver ações que fazem a diferença, para a proteção do meio ambiente e impacto social”.
É importante demonstrar materialmente o valor agregado que as duas áreas juntas podem impactar nas empresas. Talvez os próximos anos sejam marcados por ações mais concretas, indo além de comunicações e ações de marketing sobre os temas em questão. As companhias que se organizarem e implementarem com agilidade e eficiência sairão na frente.
Quais as dicas para os profissionais que desejam se tornar líderes do ramo de Compliance e/ou ESG?
Por fim, Marilia Zulini e Onara Oliveira ainda deixaram direcionamentos para os profissionais do ramo que almejam crescer no trilho de liderança das empresas:
“Primeiro, procurem conhecer com profundidade os negócios da sua empresa, o que é valorizado, o que faz a diferença no dia a dia para as áreas operacionais e de liderança. Com esses valores e conhecimentos em mente, implementar e estruturar áreas de GRC+A e ESG será ágil e eficiente. É relevante também ter o conhecimento teórico e técnico, até mesmo para entender a sinergia entre essas áreas, que trabalhando em conjunto e não competindo entre si, trazem valor para os negócios da empresa”.
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Colaboração Marilia Zulini da C. Loosli e Onara Oliveira de Lima – Superintendentes de Compliance e ESG no Grupo CCR.
Imagem: Freepik