As pessoas mais identificadas com o ESG e com a sustentabilidade corporativa, e que realmente já entenderam o tema, certamente se espantarão com o título e com o mote deste artigo. E a ideia é justamente “provocar” essa reflexão construtiva sobre a relação entre o ESG e o “dinheiro”, questionando as “vantagens ou ganhos financeiros” para as organizações.
Se a quem efetivamente entende o conceito do ESG esse tema é estranho, e até equivocado, infelizmente para muitos executivos corporativos (notadamente aqueles que não conhecem o conceito) essa questão é recorrente. Ainda há muita gente que ao abordar o tema logo levanta algo na linha de: “Como vamos ganhar dinheiro com ESG?”, ou “Quanto vamos lucrar com ele?”.
Sabemos que o ESG engloba uma nova mentalidade e uma nova estratégia corporativa, com vistas a construir organizações melhores, mais fortes, mais estruturadas e mais sustentáveis, sem que “num primeiro momento” se vise lucro ou resultado financeiro. E, em função disso, o “ideal” seria que “a esta altura” já não se precisasse explicar as razões pelas quais todos temos que abraçar o ESG, e lutar por ele, no dia a dia, e em tudo o que fazemos, pela nossa própria sobrevivência e pela das empresas.
Logicamente, porém, se ainda há quem “não tenha entendido”, é preciso repetir (e repetir) que Sustentabilidade e ESG não são modismos, e nem conceitos ou práticas que dependam de lei (pois a questão é justamente ligada ao que as empresas fazem pelo Planeta e pelos seres vivos, que não seja puramente por obrigação legal, tratando-se do que se faz por ser o certo), e nem estão ligados a ganhos financeiros, pois estão relacionados a “outros ganhos”.
Tratamos, portanto, de práticas necessárias, que devem ser adotadas em toda parte, por ser urgente e importante que cuidemos do Planeta, por ser o certo, e por envolver a sobrevivência (inclusive nossa e das organizações). O tema deve se relacionar, muito mais à própria razão de ser e de existir da organização e ao seu propósito, o que “vai bem além” do mero lucro.
Por tais razões, o ESG é cada vez mais transversal e universal, relacionando-se com todas as pessoas, áreas, iniciativas, decisões, movimentos, investimentos e práticas nas organizações, e também nas nossas vidas, como trabalhadores, cidadãos, consumidores etc. O chamado é para todos, e quem ainda não percebeu o seu papel individual nesse contexto, precisa conhecer o tema.
O Direito “já se movimenta” e já existe, em vigor ou em gestação, ao redor do globo, grande quantidade de iniciativas legislativas (mais ou menos robustas, a depender do país) que tendem a impulsionar o ESG, e logicamente, as organizações que já estiverem preparadas terão muito mais condições de uma rápida adaptação (com menos esforço e menos investimento) do que as que nem tiverem começado. Em pouco tempo, portanto, não apenas a sustentabilidade deixará de ser uma vantagem competitiva, para ser condição de existência e de sobrevivência.
Se os mercados ainda estão “premiando”, as melhores práticas/organizações, no cenário ESG, em breve quem não se adequar pagará “pedágios”, que podem até custar o próprio negócio.
Espera-se (e acredita-se) que em breve tenhamos mais pessoas realmente “convertidas” ao tema ESG, que entendam que a questão envolve temas tão profundos, sérios e urgentes que estão ligados a conceitos e valores “muito maiores do que apenas dinheiro”, posicionando-se na categoria da existência. E que, com isso, não mais se questione sobre os lucros ou os ganhos financeiros decorrentes da adoção de práticas mais sustentáveis nas organizações.
Movimentos ao redor do mundo já demonstram que essa “estrada” está sendo construída, mas, enquanto essa nova realidade “não chega” para todos, infelizmente ainda temos que ouvir (ou ler) questões sobre os ganhos financeiros que a consciência, a responsabilidade e a sustentabilidade geram, de forma que é importante “conversar sobre isso”.
Poderíamos, ao tentar responder a pergunta título, dizer que de certa forma a grande questão não é propriamente o que se lucra (financeiramente) nas organizações com o ESG, mas o que se perde ao não aplicar esse conceito, pois a empresa que não for sustentável tende, simplesmente, a morrer, a desaparecer.
Uma das abordagens muito utilizadas para explicar esse ponto é a que aponta para os riscos de não rever práticas e rotinas corporativas, que podem até mesmo inviabilizar a operação, uma vez que diversas empresas não cuidam do Planeta, mas não percebem que igualmente não cuidam do próprio negócio.
Seja pela poluição de rios, lagos ou do mar, bem como do solo, ou seja através de desmatamentos, queimadas, uso de pesticidas, descuido com o descarte de resíduos, dentre outros absurdos ambientais, a verdade é que muitas empresas estão se destruindo sem perceber, na mais pura comprovação de que por vezes se trabalha “matando a galinha em função dos ovos”.
Já se vê empresas que não cuidam das águas, que sofrem com a sua falta, seja para irrigação seja para consumo na própria linha de produção, já se vê quem desmate ou queime matas que sofre com as mudanças climáticas, dentre muitos outros exemplos.
De outro lado, a consciência de que é preciso cuidar do Planeta e dos seres vivos têm crescido tanto, que felizmente já se vê importantes movimentos de colaboradores, de parceiros comerciais e de clientes/consumidores, que estão abandonando (ou cancelando) empresas e marcas que não sejam efetivamente comprometidas com as práticas ESG.
Mais ou menos na mesma linha, já existem movimentos na área financeira, que comprovam o encarecimento das operações de quem não cuida da sustentabilidade, bem como a dificuldade de se conseguir novos investimentos e financiamentos. Ou seja, a resposta poderia ser algo como, o que se ganha é a própria sobrevivência.
Existem, porém, ao menos mais 2 (duas) maneiras de se responder a questão, sendo uma sobre a necessidade (inclusive financeira) de se adotar o ESG, sob pena do “negócio morrer”, e outra sobre ganhos efetivos em termos financeiros. E sim, eles existem e já são super importantes.
Esse tema nos provoca a reflexão sobre o conjunto de incentivos (das mais diversas formas) às práticas sustentáveis, assim como de “desincentivos” às práticas que não o são. E muitos deles envolvem, e valem, dinheiro; o que responde claramente às questões de quem ainda acredita que as organizações só se devam “mexer” e modernizar na direção direta do retorno/ganho financeiro puro.
Vemos, assim, que, embora o ESG não tenha sido “pensado” para gerar propriamente dinheiro às organizações, a verdade é que gera sim, e vale muito dinheiro.
Se de um lado, portanto, devemos considerar que a sustentabilidade gera e cria sim, muito valor e muito dinheiro, em função do encarecimento crescente das operações não sustentáveis, bem como da perda de parceiros, de colaboradores e de clientes, com fortes danos às marcas e à imagem das organizações; sendo claro que o único caminho para quem quer continuar existindo e operando é encontrar um novo modelo para o seu negócio, que seja realmente sustentável. Por outro lado, podemos sim demonstrar que (“além disso”) o ESG gera muito dinheiro.
A crescente conscientização de colaboradores, parceiros e consumidores, e a migração de grande parte desses para empresas sustentáveis, naturalmente ajudará tais organizações a serem melhores, “venderem” mais, terem financiamentos melhores, e em conjunto a ganharem mais.
A imagem positiva e sustentável de marcas e de organizações, decorrentes da efetiva prática ESG, atrai cada vez mais investimentos e financiamentos, em condições muito mais favoráveis, conquista mais e mais parceiros e consumidores que se tornam efetivos parceiros e ajudam a marca a crescer (inclusive com iniciativas espontâneas de divulgação e propaganda positiva), e ainda demonstra que a redução de desperdícios e a operação mais consciente, custa menos.
Sabe-se que a depender do segmento da organização e do quão “não sustentáveis” sejam suas práticas tradicionais, mudanças profundas podem ser necessárias, e que muitas delas demandam tempo e dinheiro, mas não apenas essas novas práticas passarão a ser comprovadamente melhores, mais sustentáveis e até mais baratas, como demonstrarão que o “jeito certo de operar” sempre vale mais.
O importante, portanto, mesmo para quem prefira considerar o “ganho financeiro” como único norte dos passos da organização, é avaliar o que precisa ser mudado, pois a prática rapidamente demonstrará que diversas alterações não custam muito, sendo mais ligadas à consciência e às escolhas melhores do que a dinheiro propriamente dito, mas demonstrará, também, que mesmo nos casos em que sejam necessários investimentos maiores, tanto eles serão recuperados em algum tempo, como podem ser aplicados de forma paulatina e escalonada.
Esse tema é fortemente ligado à governança corporativa, que igualmente busca a melhoria da empresa e da sua operação, com vistas à perenidade e ao fortalecimento da organização, que tende a render mais, lucrar mais e valer mais. E não por acaso a governança é justamente um dos três pilares do ESG (o G), e é o que estrutura as práticas corporativas para que o E e o S consigam existir e sejam devidamente implementados.
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