Qual a sensação de realizar um enorme investimento nos estudos, passar no vestibular e, depois de 2 ou 3 anos, abandonar o curso na faculdade dos sonhos?
A possível frustração pode encontrar causas variadas como: escolha equivocada, falta de recursos, mudança de cenário ou outro motivo qualquer. No entanto, é sensato admitir: algo saiu errado.
Há mais de uma década, por exemplo, altos executivos e outros participantes assinaram cartas de intenções em prol da ética e da integridade por meio de Ações Coletivas no campo do Compliance, vangloriando-se de seus objetivos.
Todavia, na prática, pouco progresso foi observado, o modus operandi dos negócios continuou como era antes, e não tardou para tudo ser esquecido.
De forma análoga, um Programa de Compliance restrito aos domínios internos de uma organização abre uma lacuna importante.
Se de um lado o Sistema de Integridade conta com:
- Código de Conduta e políticas;
- treinamentos e comunicação;
- Canais de Denúncias;
- e uma série de processos para prevenir, detectar e corrigir irregularidades e desvios de todas as naturezas…
… por outro, os fornecedores, parceiros, terceirizados, distribuidores e prestadores de serviço em geral são mantidos à margem dessa cultura.
É possível uma empresa ética possuir relações comerciais com outras empresas, não alinhadas aos seus princípios e valores de integridade?
Alguns podem argumentar tomar providências cabíveis, tais como: realizar due diligences, compartilhar treinamentos EAD, coletar assinatura no Código de Conduta e incluir cláusulas de Compliance nos contratos.
Mas, esse tipo de medida é suficiente para mitigar o risco de os fornecedores e terceiros evitarem irregularidades, ilicitudes ou desvios de conduta?
Se assim fosse, as legislações anticorrupção ao redor do mundo manteriam apenas exigências como essas, em vez de demandar mecanismos completos de integridade para as empresas.
Na prática, quando um fato inesperado vem à tona, como no caso do trabalho escravo de terceirizados na vinícolas, tentar justificar e explicar para remediar o problema não abranda o dano reputacional e as penalidades impostas à organização.
Certamente, os culpados serão procurados e punidos, mas precisamos admitir: esta é a comprovação evidente de o Compliance ter fracassado.
Por outro lado, o caminho para prevenir desastres desse tamanho é fácil e muito eficiente: trata-se das Redes de Integridade.
Com uma Rede de Integridade, uma organização promove uma ação conjunta com seus fornecedores, parceiros, terceiros e distribuidores, envolvendo-os num projeto de médio prazo, a fim de implementar o Sistema de Compliance em cada uma dessas empresas.
Aproveitam-se, assim, as sinergias, e mantêm-se o respeito pelas particularidades, tamanho e natureza de cada empresa.
Ou seja, cada um terá um sistema customizado e conforme sua cultura e características próprias.
Rede de Integridade Marcopolo — um case de sucesso
Joucasta Festa atua no Compliance da Marcopolo e está na empresa há 16 anos. Ela comentou o seguinte em relação à iniciativa:
“A Marcopolo estabeleceu uma regra de que parceiros comerciais que não possuírem um Programa de Compliance efetivo não poderão manter relações de negócios com a gente.
Começamos esse movimento de Rede de Integridade da Marcopolo com os nossos representantes e concessionários do Brasil. E, agora, após o projeto ter sido bem sucedido, estamos estendendo para os nossos representantes no mercado externo.Alguns até nos perguntam: mas, eu não tenho estrutura. Onde houver pessoa jurídica, o Compliance é recomendado. O Compliance deve ser visto como um investimento para viabilizar negócios. Nesta linha, nós já temos alguns cases de sucesso na nossa rede, que muito nos orgulha.”
Grupo Bormana — participante da Rede de Integridade da Marcopolo
Ivan Oliveira é Gerente de Logística e Compliance Officer da Bormana e assumiu a missão de implementar o Programa de Compliance no Grupo, utilizando a Compliance Station como apoio.
Empolgado com os resultados, compartilhou conosco a sua experiência no projeto:
“Quando chegou para nós o Compliance através da Marcopolo, acho que foi uma belíssima iniciativa.
Foi um trabalho bacana de descoberta… uma plataforma fácil de trabalhar… Toda semana uma inovação, uma vitória.
Nada mais nada menos do que aquilo que a gente sempre fez. Porém, hoje com procedimentos, com regras, controles e a participação dos nossos colegas. A gente está aproximando nossos funcionários.
E sobre os parceiros comerciais da Bormana, Ivan afirmou:
“As empresas maiores nos passaram elogios … e os fornecedores menores ficaram curiosos de saber o que estava acontecendo… “
Empresas que trabalham corretamente estarão trabalhando com empresas que trabalham corretamente.”
Conclusão
A ética e a integridade são valores inegociáveis para empresas que pretendem manter a sustentabilidade e ter sucesso no mundo dos negócios.
Contudo, essa cultura pouco vale se não for estendida ao seu mercado de atuação.
Assim, a cadeia de fornecedores deve ser abrangida pelos Programas de Compliance, não de forma protocolar, mas sim, de maneira efetiva e concreta.
A Rede de Integridade é a solução viável para todas as organizações.
Iniciativas dessa natureza permitem ganhos imensos, evitando desperdícios de tempo e dinheiro para os participantes.
Com o auxílio de ferramentas apropriadas, empresas contratantes e seus fornecedores, parceiros e terceiros em geral engajam-se num projeto simples, de fácil implementação, com resultados palpáveis e rápidos, no ponto certo para cada instituição por conta da customização aplicada no decorrer das tarefas.
Wagner Giovanini é especialista em Compliance e sócio-diretor da Compliance Total, Contato Seguro e Compliance Station. Autor do livro “Compliance – a excelência na prática”, desenvolveu a Compliance Station®, plataforma inovadora para a implementação e execução do Compliance em micro e pequenas empresas e referência para as Redes de Integridade. Para mais informações e conteúdos sobre o tema, clique aqui e acesse nosso site.