Recorrer a modelos prontos de integridade de outras empresas é uma tentação recorrente. Algumas querem “um programa igual ao daquela que virou referência”. Outras pedem para adaptar um código de conduta que “funciona bem em outro setor”. E há quem acredite que adotar boas políticas já é sinônimo de ter uma cultura ética.
Mas cultura, especialmente a de integridade, não se imprime, não se terceiriza e muito menos se copia. Ela se constrói. Na escuta, nas decisões do dia a dia, no jeito como as pessoas realmente agem quando ninguém está olhando.
Quando a boa prática vira atalho
Observar o mercado e buscar boas referências faz parte do processo, inclusive para avaliar as melhores práticas. Mas há uma linha tênue entre se inspirar e copiar. Essa linha é cruzada com mais frequência do que se admite.
E o que funciona em uma organização… pode ser completamente ineficaz em outra… Ainda assim, vemos empresas tentando encaixar modelos prontos em contextos que não dialogam com sua realidade.
O resultado? Vitrines bem montadas com bastidores frágeis. Manual bonito, política impecável, e um cotidiano que ignora tudo isso.
Integridade precisa fazer sentido para quem vive a rotina, toma decisões e sente os impactos. Caso contrário, ela se transforma em formalidade. Não em cultura.
A síndrome do “sempre foi assim”
E não podemos esquecer que, durante processos de mudança, é comum esbarrar em uma resistência silenciosa: “Aqui sempre foi assim.”
Essa postura aparece de forma cordial, bem articulada e, muitas vezes, estratégica. No fundo, revela um apego ao modelo atual, mesmo quando ele já não funciona.
E o mais curioso: isso acontece até em empresas que se consideram modernas, ágeis ou comprometidas com a ética.
Na prática, a mensagem é clara: aceitamos mudar, desde que nada mude de verdade.
Cultura se constrói com escolhas consistentes
A cultura não nasce de um código de conduta bem escrito. Ela depende do alinhamento entre discurso e prática, da forma como a liderança lida com dilemas reais, e da qualidade do espaço criado para escutar, discordar e ajustar.
Não adianta declarar integridade como valor se ela não está presente nas decisões do dia a dia. Quando os comportamentos não acompanham os princípios declarados, o discurso perde força e credibilidade.
Construir uma cultura forte exige esforço contínuo. Não existe modelo pronto, nem fórmula replicável. Cultura se estabelece por repetição, coerência e intenção.
É prática, não retórica. E essa prática precisa ser sustentada mesmo quando ninguém está cobrando.
Integridade exige prática
Construir uma cultura de integridade não é sobre ter políticas perfeitas ou apresentações bem desenhadas. É sobre decisões consistentes, sustentadas ao longo do tempo, mesmo quando são difíceis ou impopulares.
Isso exige intencionalidade, liderança comprometida e disposição para encarar a realidade institucional como ela é, não como aparece nos relatórios.
A cultura que realmente sustenta integridade é aquela que atravessa reuniões informais, momentos de pressão e conflitos éticos com a mesma firmeza com que se apresenta nas normas internas.
Ela não nasce pronta.
Ela se constrói. Todos os dias.
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