Os conceitos e as práticas ESG estão (felizmente) crescendo no Brasil, mas ainda há um longo caminho a percorrer, inclusive, para que as organizações percebam a importância de fomentar essa importante evolução corporativa no tocante às externalidades.
Na mesma linha, outro aspecto fundamental que precisa ser melhor compreendido pelas organizações é a importância da consistência e da coerência no tocante a todas as suas atividades, inclusive com relação a reuniões, a eventos corporativos e “apoios” em geral.
A empresa “é uma só” e, ao pretender abraçar valores fundamentais como programas e políticas sérias e robustas, relativas à boa governança corporativa e ao compliance, precisa demonstrar essa unidade em todas as situações.
Frequentemente observamos que mesmo organizações que se dizem conscientes e responsáveis, parecem se esquecer de que certas práticas ligadas às bases ESG precisam estar presentes em todos os momentos, em todos os lugares e em todas as situações, sob pena de abalar a imagem.
O cenário já está mudando e melhorando, mas ainda se vê organizações que não tomam o mesmo cuidado com relação às questões ambientais e sociais em reuniões, por exemplo, utilizando plástico em pratos, copos e garrafas, bem como em lanches, refeições e “coffee-breaks”, ainda usarem sacolas e embalagens plásticas, além de nem sempre oferecerem alimentação e bebidas efetivamente saudáveis e equilibradas, e terem recipientes para o descarte adequado e seletivo de resíduos.
Também se observa pouco cuidado com o espaço em salas e corredores para os deficientes físicos, em especial cadeirantes, que por vezes não conseguem “trafegar”, ou mesmo chegar a partes elevadas do recinto em alguns casos. Esquecem-se, ainda, nessas situações, de que pessoas com necessidades especiais precisam de apoio, de acompanhamento e também de mais espaço para se locomover, além de muitas vezes precisarem de piso tátil ou sinalização sonora.
O mesmo se observa no tocante a portarias, estacionamentos, abertura de portas, recepções e mesmo banheiros e copas, nas organizações e nos eventos, que nem sempre são efetivamente acessíveis. E há casos em que as pessoas com necessidades especiais, ou idosos, precisam passar pelo constrangimento de pedir ajuda (que nem sempre está disponível rapidamente), o que costuma demorar bastante.
E a questão prossegue, pois se aplica às instalações (como centros de convenções e hotéis), aos materiais usados nos eventos, assim como na estrutura, no mobiliário, e também nos brindes e nos presentes.
De outro lado, poucas vezes se percebe a preocupação com a identidade e a sinalização interna, por não incluir acessibilidade em braile (por exemplo na indicação de salas e espaços em geral), além de nem sempre haver elevadores para o acesso de cadeirantes a todos os espaços; e mesmo o já referido piso tátil para os portadores de deficiência visual.
São cuidados extremamente importantes, para os quais mesmo organizações que já se mostram preocupadas com a questão ESG se esquecem de ser coerentes no tocante a todos os espaços, momentos e eventos.
Situação semelhante se observa em eventos corporativos como convenções, seminários, congressos, feiras e exposições de demais situações de convivência de muitas pessoas.
Infelizmente, ao menos a maioria dos organizadores desses eventos – e das próprias empresas patrocinadoras – ainda não se mostra efetivamente preocupada com essas questões, o que, na prática, tem impedido que diversos públicos consigam comparecer ou participar, ou ao menos não são adequadamente acolhidos e respeitados.
Verifica-se, até mesmo, que nem sempre todos os documentos, autorizações e certificados dos espaços e dos prestadores de serviço são checados (inclusive pelas equipes de marketing, compras e de compliance) ou as efetivas condições de segurança.
Espera-se que rapidamente as organizações desses eventos, bem como as empresas que fornecem espaços, estrutura e serviços para eles, passem a se preocupar com essas questões de forma efetiva e clara.
Em paralelo, esperamos que, em breve, também as autoridades modernizem as legislações e seus critérios para autorizações de espaços e eventos, e passem a considerar os temas ESG, e de sustentabilidade em geral, em suas avaliações.
Mesmo eventos e feiras ligados a “compliance”, saúde, bem estar, causas sociais, meio ambiente e pessoas (em diversos campos) seguem “derrapando” nesse aspecto, o que demonstra a necessidade de que até mesmo um novo protocolo para essas situações (ou guias de melhores práticas) sejam implementados.
Grandes eventos, palestras e seminários ou congressos, por exemplo, já não deveriam deixar de incluir as modalidades de audiodescrição e libras nas apresentações, pois, ao não incluir essa acessibilidade, acabam excluindo grande parte das pessoas (ou, ao menos, não as incluem, envolvem e respeitam).
Surpreendentemente, mesmo espaços novos e, teoricamente modernos, estão deixando de considerar a acessibilidade, a mobilidade e o meio ambiente em suas concepções, mobiliários e “lay outs”, assim como instalações, sem contar os diversos pontos comerciais e de prestação de serviço nas nossas cidades que não contam com nenhuma formação especial e treinamento aos seus colaboradores, para o adequado atendimento e acolhimento de pessoas que precisam de cuidado. Sem contar a frequência com que elevadores, rampas e escadas rolantes estão quebrados e inoperantes.
Vemos, também, que, por conta da nova realidade mundial, que em grande parte privilegia o “mundo digital”, muitos escritórios, empresas em geral, agências, escolas e faculdades, clubes etc. estão sendo “modernizados e reformulados”, adotando novos conceitos, mas em geral sem essa preocupação com o ESG.
E o que aqui destacamos é que mesmo as organizações que se dizem preocupadas com a pauta ESG, nem sempre demonstram o mesmo cuidado ao organizar, participar, promover, realizar, patrocinar, ou mesmo apoiar, reuniões, encontros, eventos, cursos, palestras etc.
Nesses casos, talvez algumas organizações “se esqueçam” de que ao participar, ou mesmo “apenas” patrocinar e/ou apoiar eventos e reuniões, ou distribuir brindes, que não contemplem esse cuidado e esse respeito com as pessoas e com o meio ambiente, estão abalando e ferindo fortemente a sua própria política e a sua própria imagem.
Recomenda-se, portanto, que as organizações fiquem atentas e tomem os cuidados necessários para que em suas reuniões e eventos, próprios ou coletivos, as pessoas e o meio ambiente sejam efetivamente levados em conta, considerando todo o contexto e todos os itens pertinentes – como, por exemplo, do lanche ao brinde, do microfone à audiodescrição e à comunicação em libras, do cuidado com a alimentação e a bebida, ao adequado descarte de resíduos passando pela acessibilidade e a mobilidade.
Precisamos efetivamente reduzir ou eliminar o plástico, respeitar as pessoas, fomentar práticas mais respeitosas e sustentáveis, e prestar bastante atenção aos critérios para “empréstimo” da imagem das organizações.
Pense nesses pontos ao organizar suas próximas reuniões e seus próximos eventos.
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