A conscientização do papel corporativo na Sustentabilidade está crescendo, e já vem deixando de constar apenas dos discursos, dos debates, das palestras e dos “papers”, chegando ao “mundo real”.
Ainda é um começo, mas o “ESG na prática” já começa a ganhar forma, e corpo, de diversas maneiras, a depender da instituição (como deve ser), aplicando-se as bases e os conceitos ao caso concreto.
Alguns movimentos importantes já ocorrem, por parte de várias “bolsas de valores” e “segmentos de listagem”, e de autoridades ao redor do globo, além de reuniões sobre acordos e tratados internacionais, sendo exemplos brasileiros as normas emitidas pelo Banco Central do Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários, entre outros.
Como uma das bases da Sustentabilidade Empresarial Plena é fazer muito além do que seja obrigatório e determinado pela lei (pois o caminho é justamente ir “além do mínimo”), não se deve esperar que autoridades simplesmente “aumentem” o rol do que as empresas precisam fazer.
Nessa linha, enquanto empresas “abertas” (em geral maiores e mais estruturadas) já se ajustam às normas que lhes afetam diretamente (inclusive quanto à maneira de divulgar suas atividades, como os formulários de sustentabilidade e de referência, outras pesquisam “exemplos” e “modelos”, por vezes negociados com seus pares ou seus segmentos, além de muita troca de informação e experiência, como nos contatos de “benchmark”.
O importante é que todas, pequenas ou grandes, antigas ou jovens, de todos os segmentos e setores, passem a adotar práticas mais sustentáveis em tudo o que fazem, sendo cada vez mais conscientes, responsáveis e coerentes.
O caminho pode ser mais curto ou mais longo, mais rápido ou mais lento, sendo importante que se comece e que se esteja efetivamente comprometido com o tema, para que não se corra o risco de desistir ao encontrar a primeira dificuldade.
Uma questão frequente, e que afeta a todos é sobre o “famoso” primeiro passo, ou sobre “como começar”, que também precisa ser considerado caso a caso, uma vez que a maioria das empresas conscientes e responsáveis já vem implementando (ou ao menos avaliando) iniciativas concretas, conforme sua própria estrutura, cultura e realidade.
Como não existe forma certa de se fazer as coisas erradas, e as empresas não operam no vácuo (influenciando e sendo influenciadas pela sociedade), acredita-se que ao menos a maioria das organizações queira operar da melhor forma possível, mas que nem sempre se deem conta de que para isso é preciso rever todos os seus critérios, padrões e bases de tomada de decisão, para ajustar práticas que por vezes podem ser apenas tradicionais ou até mais baratas, mas que não sejam sustentáveis.
Ouvir, através de pesquisas, seus próprios colaboradores, seus parceiros comerciais, consultores especializados e expoentes em seus segmentos, pode ajudar bastante, além de gerar maior envolvimento e aderência ao programa.
Talvez duas sejam as principais recomendações iniciais: (1) Comece efetivamente a implementar a cultura da sustentabilidade, incluindo-a no modelo de negócios e no processo de tomada de decisão em cada movimento; e (2) Considere a sua realidade e o seu momento, para que se fuja dos formatos prontos ou padrões.
Frequentemente empresas, investidores e executivos se perguntam, bem como aos seus advogados e consultores, sobre a melhor forma ou a maneira correta de se começar, questão que precisa ser efetivamente avaliada individualmente, sem que se caia na armadilha de se recorrer a padrões, fórmulas gerais e prontas, ou verdades absolutas.
Cada organização é única, com diversas características e fatores que lhe são únicos, e que afetam diretamente o modo de gestão e de operação de todos os pilares do ESG, razão pela qual não se pode cair na tentação de “copiar” ou de padronizar.
Recomenda-se, também, que se evite uma análise muito rápida ou superficial da realidade da organização, para que não se “pense” que uma nua determinada área ou tema “está tudo bem”, quando pode não estar, ou pode haver muito a melhorar.
Ainda no campo do que se recomenda evitar, é importante ter a consciência de que o Programa de Sustentabilidade (e não projeto, por ser constante e permanente, com melhoria contínua) precisa permear tudo o que a empresa faz, todos os seus fluxos e processos, das compras aos produtos e serviços, dos fornecedores aos parceiros e colaboradores, do que se faz internamente e no que se influencia em termos de externalidades, do que se faz pela comunidade local e pelo planeta, do que demanda mudanças profundas no modelo de negócios ao que pode ser melhorado com ajustes, do que demanda investimentos altos ao que pode nem envolver custos adicionais etc.
A área de sustentabilidade não deve ser um mero “apêndice”, por vezes muito fora do organograma, precisando ser atuante e de fato conhecer (e se possível apoiar e influenciar) os passos e os planos da organização, para que, por exemplo, novos investimentos, novas instalações, novos projetos, novos produtos e novos serviços, já “nasçam” mais sustentáveis.
Um dos principais e primeiros passos na construção da Sustentabilidade Plena, portanto, costuma ser a criação do “Comitê de Sustentabilidade”, com a participação de (poucos) representantes das diversas áreas da organização, que consigam colaborar e ao mesmo tempo precisem ser sensibilizadas. O formato varia bastante, mas costuma incluir profissionais das áreas jurídica, pessoas, operações, governança e “compliance”, além de profissionais de departamentos específicos, a depender do segmento e do negócio.
O “reporte” do comitê precisa ser adequado à organização, ao seu momento e à sua cultura, mas é importante que exista contato frequente com “quem decide” como diretoria, conselho ou mesmo controlador – conforme o caso.
Os comitês precisam ser permanentes, reunir-se ao menos semanalmente (especialmente no primeiro ano, quando há bastante mapeamento a ser feito, pesquisas e alinhamentos), contar com pessoas comprometidas com a sustentabilidade e dispostas a atuar, também, como “embaixadores” internos, geralmente em grau gerencial, e, ainda, contar com ao menos um membro externo e independente, com experiência na área para ajudar com visões, experiencias e sugestões externas e de mercado.
Saber que o comitê deve ser permanente, e que o programa será de evolução e melhoria contínua, é super importante, para que não se tenha pressa exagerada, correndo-se o risco de perder o que de melhor se constrói com essa iniciativa.
Muito do que o comitê tem feito, nas empresas que já o implementaram, é mapear questões e aspectos, acompanhando fluxos e decisões, sugerindo melhorias e ouvindo sugestões, organizando iniciativas a serem apresentadas à alta gestão.
A depender da empresa e do segmento, o mesmo comitê colabora com reuniões, treinamentos e palestras de sensibilização e conscientização, organiza eventos e ações, filtra iniciativas e ajuda a construir os indicadores, além de acompanhar os planos de transição com relação aos movimentos mais complexos.
Se de um lado é importante começar e organizar as atividades, de outro é importante que o modelo escolhido “funcione”, que seja aceito pela empresa como um todo e que conquiste credibilidade, pois de certa forma atua, também, como um “guardião” da pauta.
Conheça bem a sua empresa e a sua cultura, considere o seu momento e a sua realidade, pesquise mais sobre sustentabilidade e esg, avalie o que seus parceiros e concorrentes já estão fazendo, e o que recomendam organismos internacionais sérios, e crie o comitê de sustentabilidade – é o começo mais efetivo e melhor estruturado que se conhece, e o que mais tende a construir resultados concretos, gerando mais envolvimento e alinhamento.
O caminho é individual e precisa ser permanente, mas rapidamente gera ainda mais unidade na empresa, melhora o clima organizacional, amplia a inclusão e o sentimento de pertencimento, abrindo espaço para o propósito e o legado de todas as organizações.
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Imagem: unDraw
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