Um dos grandes desafios corporativos atuais é transformar o discurso em prática, especialmente no que se refere à Sustentabilidade, para que se evite que a ideia seja engavetada ou perdida, bem como que se caia na armadilha de abordar este ou aquele ponto, ou mesmo de comunicar o que não seja “bem assim”, sem que de fato se ajuste a mentalidade de operar o negócio.
Empresas realmente inovadoras já não são as que se preocupam “apenas” com tecnologia ou automação, e nem as que correm apenas atrás do lucro do trimestre ou do crescimento exponencial, mas são as que conciliam todos esses fatores à sustentabilidade, conhecendo riscos e gerindo todos os seus fatores produtivos com responsabilidade, e visão de longo prazo (em todos os aspectos).
A maneira, a forma, o ritmo e o jeito de se aplicar o conceito geral à realidade de cada organização varia muito, e precisa mesmo ser adaptado a cada caso, mas é fundamental que as empresas encontrem o seu caminho – rapidamente e com seriedade.
Como “já passou da hora” de vermos todas as empresas realmente preocupadas com a sustentabilidade, é, infelizmente, natural que todos queiram “fazer alguma coisa”, até para que sua imagem não seja abalada por uma possível inércia nesse campo, mas tornar o ESG uma realidade de fato percebida por todos, é bem mais profundo, e demanda muito mais, do que apenas conversar sobre o tema ou do que implementar iniciativas meramente pontuais e isoladas.
A caminhada será longa (na verdade permanente), e começar “para valer”, e de forma razoavelmente estruturada, pode ser um dos primeiros passos fundamentais em cada organização, sendo esse o chamado que todo o Planeta está constatando nos principais fóruns empresariais e políticos mundiais – especialmente nesta década.
Passada a fase “inicial” de se fomentar, e ampliar, o debate e a conscientização sobre a importância, e a urgência, da implementação da mentalidade de sustentabilidade empresarial plena nos negócios, precisamos construir maneiras de aplicar a agenda ao dia a dia, em todos os seus fluxos, decisões, movimentos e práticas.
O que se espera, com o tempo, é que em todas as áreas, e em todos os temas, da organização, as decisões sejam tomadas de forma responsável, consciente e sustentável, com os devidos cuidados, ambientais e sociais, como pontos tão importantes e centrais quanto os controles de custos, por exemplo.
A própria estratégia da empresa e o seu plano de negócios precisam passar a considerar todas essas questões, e encontrar maneiras (inclusive de financiar) as devidas transições, para que “tudo” passe a ter a sustentabilidade como um de seus pilares.
Em alguns casos e segmentos, o ajuste do modelo de negócios precisará ser muito profundo, por vezes até “mudando quase tudo”, mas será necessário – inclusive para que a organização não morra.
Felizmente, a maioria dos empresários e executivos já entende que é necessário abrir esse espaço com seriedade (por exemplo em reuniões de diretorias e de conselhos, com fornecedores e parceiros etc.), e avaliar como cada um deve se movimentar para ajustar a sua realidade a esse novo modelo (mais moderno e evoluído), mas nem todos já começaram na prática.
Talvez nem todos já tenham percebido que a Sustentabilidade econômico-financeira dos negócios, também estará cada vez mais ligada a essas questões, que logo deixarão de ser voluntárias e optativas, pois seus colaboradores, fornecedores, parceiros, clientes e consumidores exigirão mais e mais esse modelo. Cada vez mais esses pontos serão questão de sobrevivência corporativa.
Em muitas organizações o tema ainda está sendo apenas comentado de forma eventual, ou sendo colocado como pauta “para o futuro”, enquanto outras acreditam que precisam contratar caríssimas e enormes estruturas ou consultorias para encontrar o seu caminho. Entendemos que essas estejam “equivocadas”.
Na maioria dos casos, o melhor para cada organização é encarar o tema com verdade e firmeza, dentro da sua realidade, inserindo a questão na sua cultura e no seu jeito de operar o negócio, melhorando-o e modernizando-o, para que seja realmente mais sustentável.
Procurar padrões e fórmulas mágicas ou únicas, ferramentas e programas “de prateleira” em geral não resolve e não é o caminho, pois as realidades e as demandas de cada organização são únicas, assim como o seu estilo, os seus integrantes, a sua comunidade etc.
Para que realmente seja uma realidade, que se perceba a sustentabilidade na prática e no dia a dia, em cada empresa, o Programa de Sustentabilidade precisa ser realista e coerente com o momento da organização, que geralmente precisa ser modernizada, mas ainda assim respeitar a sua cultura.
O contexto geral da agenda ESG já é bastante conhecido, mas aplicar cada pilar e cada demanda, ao caso concreto, requer tempo e conhecimento do negócio, de forma que envolver os colaboradores, realizar pesquisas, ouvir sugestões, conversar com outras empresas da região e do mesmo segmento, dentre outras medidas, são iniciativas que integram a pauta do Comitê de Sustentabilidade (que precisam ser permanentes, fortes, multidisciplinares, e contar com a participação de ao menos um membro externo-independente, especializado no tema), que costuma ser o primeiro passo real na construção de cada programa.
Assim como já ocorreu com a Governança Corporativa e o Compliance, é fundamental que os “donos” do negócio, seus investidores e principais executivos estejam realmente comprometidos e envolvidos, para que não apenas encarem a pauta com seriedade, mas também para lhe emprestar a devida credibilidade e força.
A cultura de cada empresa é fortemente ligada ao que seus gestores praticam, em seus próprios exemplos e condutas, nas diretrizes que implementam, no que levam em conta para tomar decisões etc. , de forma que eles precisam ser os primeiros e principais “guardiães” dessa nova cultura.
Nessa linha, precisamos cada vez mais de empresas que contem com Conselhos de Administração e Diretorias, sensíveis ao tema, conscientes e responsáveis, modernos e diversos, que sejam atentos ao que precisa ser feito para que a organização realmente encontre o seu caminho – em cada caso.
Em algumas empresas a cobrança está chegando através de demandas da própria força de trabalho, ou como reflexo das dificuldades das áreas de recursos humanos para atrair colaboradores para a sua estrutura quando suas práticas não são sustentáveis, e em outros casos começa a vir dos clientes e consumidores, pelo que se acredita que logo venham demandas “de todos os lados”. Esperamos que, em breve, todas as empresas busquem apenas parceiros que por sua vez também sejam comprometidos com a sustentabilidade.
Nas organizações em que alguns executivos ainda sejam resistentes, e ainda não tenham percebido a importância e a urgência da agenda, uma iniciativa que tem funcionado muito bem quando os “donos” querem realmente implementar esse ajuste de conduta geral, é implementar o devido ajuste, tanto no “job description”, quanto no plano de metas e de bônus, para que os resultados a serem apresentados sejam avaliados de maneira mais ampla, considerando muito mais do que “apenas” o aspecto financeiro.
Algumas das certezas que se tem é que a agenda veio para ficar, e que não se pode viver no vácuo, ignorando as demandas atuais, assim como a que nos mostra que a pauta é para todos, de todos os portes, segmentos e origens, sendo os devidos ajustes avaliados em cada causa, justamente pelos Comitês de Sustentabilidade que tanto ajudam na criação do Programa quando anteriormente inexistente, quanto nas devidas adaptações e melhorias quando alguma semente já estava plantada, bem como na necessária “tropicalização” no caso de empresas mundiais, que por vezes se esquecem de que as demandas são gerais em alguns pontos, mas locais e específicas em outros.
Incluir a agenda ESG na empresa é fundamental e urgente, e precisa ser “para valer”.
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