Há algum tempo, temos observado que grande parte das “StartUps” passa por enormes dificuldades financeiras, uma vez que muitos fundos de investimentos, e investidores em geral, “frearam” suas concentrações de alocação de recursos no tocante a essa modalidade empresarial. E o “tempo do dinheiro que não cobrava retorno”, passou.
Investimentos “de risco” sempre existirão, mas tudo indica que, por algum tempo, ao menos a demanda por uma “segurança mínima” de retorno estará presente na cesta de fatores que os financiadores de projetos (e de empresas) consideram para as suas “apostas”. E os bancos também têm demonstrado um certo recuo na concessão de crédito.
Com isso, entendemos que o próprio conceito de “StarUp” esteja precisando de alguns ajustes, e que nesse “novo” contexto precisemos incluir, por exemplo, e com urgência, a questão da sustentabilidade – a começar pela econômica.
A chegada do ESG ao mundo corporativo tem ajudado muito a chamar a atenção para a necessidade de melhoria dos indicadores de governança corporativa, assim como dos sociais e dos ambientais, mas é preciso que todos nos lembremos de que não há sustentabilidade sem rentabilidade, e sem lucro. E é justamente esse o ponto que parece ter sido ignorado por algum tempo, em grande parte das StartUps.
Em épocas de “vacas gordas”, e de “dinheiro fácil”, muitos projetos considerados inovadores, pautados por “grandes ideias” atraíram a atenção dos investidores, que muitas vezes tiveram muita paciência, e seguiram injetando recursos, mesmo em operações que demorariam a “dar retorno”.
Vivemos uma época de super valorização das “boas ideias” boas, e dos projetos que poderiam ganhar escala rapidamente, mas na qual alguns parecem ter esquecido de que empresas precisam ser rentáveis.
Propomos, assim, um certo “choque de realidade”, em função das novas situações econômicas, brasileira e mundial, que ajude a redefinir o conceito de StartUp, passando a cobrar, também delas (como já ocorre nas demais empresas) uma relação mais realista, e até conservadora, entre investimento e retorno, e entre “aposta no futuro” e sustentabilidade.
As boas ideias, e a inovação, são importantes sim. E toda empresa precisa ter o crescimento no horizonte, mas projetos sem retorno, sem lucratividade, e sem sustentabilidade, na cesta de princípio e de valores, nem sempre conseguem sobreviver por muito tempo.
Embora “agora” tenhamos inclusive uma definição legal brasileira do que sejam essas empresas, em função do chamado “Marco Legal das StartUps” (que a nosso ver errou, ao conceituar como tal apenas, as que se incluem no escopo constante na lei – quando no jargão corporativo geral esse termo tem alcance bem mais amplo), além do próprio apoio jurídico, e da ampliação da segurança, decorrentes do diploma legal, a verdade é que a questão da sustentabilidade (inicialmente econômica) também é super importante – e precisa ser encarada como prioridade.
Por diversas razões, e até mesmo uma certa euforia, além da busca desenfreada por inovação e automação, tivemos no campo corporativo, nos últimos anos, uma corrida pelo crescimento exponencial extremamente rápido, de “recall de marca”, de clientes, e de participação de mercado, sem que se buscasse, com o mesmo afinco, o retorno financeiro, ou mesmo o equilíbrio.
Viveu-se, assim, uma grande febre pela construção de unicórnios, como se as dificuldades pudessem ser sempre contornadas apenas pela presença do binômio inovação-automação. E, na mesma linha, nesse período, boa parte das demais questões, que igualmente determinam o sucesso (ou não) das empresas em geral foi, por vezes, renegada a um segundo – ou até um terceiro plano.
O resultado de uma certa ingenuidade coletiva, ou excesso de otimismo, que agora parece ter acabado, é que por algum tempo o “mercado” fez vistas grossas quanto à real viabilidade de diversas dessas empresas, deixando de pressionar pela receita, e pela lucratividade; quase que ignorando a necessidade de sustentabilidade.
Tudo indica que essa “crise das StarUps” seja passageira, e que em algum momento os mercados encontrem um novo patamar de equilíbrio, mas é preciso que não se perca a oportunidade de aprendermos coletivamente com os erros cometidos, para que tenhamos, “após a crise”, empresas que além de inovadoras e modernas, sejam também rentáveis e sustentáveis.
O momento agora é de ajuste, de reinvenção e de correções de rotas, como aliás é frequente no cenário empresarial. E pode determinar quem sobreviverá.
Uma das primeiras lições que o empreendedorismo ensina, assim como o mundo corporativo em geral, é que as condições, as situações, e as realidades, “mudam o tempo todo”. E a principal consequência dessa questão é que será sempre preciso muita rapidez, capacidade de ajuste, de flexibilidade, e até de “reinvenção”, para sobreviver no universo empresarial. E no Brasil isso é ainda mais forte e importante.
Essa constatação quase “Darwiniana” do mundo dos negócios, e das empresas, está sendo colocada fortemente em vigor nesse momento “pós pandemia”, e afetando em especial as “startups”, que precisam ser muito ágeis na reação, sob pena de terem que fechar as portas por falta de dinheiro.
Parte do que vemos atualmente é cíclica, mas a experiência tem mostrado que nem todas as lições têm sido realmente aprendidas pelos mercados. E os erros se repetem.
Tanto as crises, quanto as temporadas de otimismo e de euforia, bem como de “dinheiro fácil”, vem e vão, e provocam a mudança de cenários com bastante frequência, de forma que as empresas que não estiverem conseguindo efetuar os necessários ajustes rapidamente, tendem a sofrer bastante nos próximos anos.
E esse ponto ataca, de maneira mais cruel, as empresas que ainda não tiverem encontrado o equilíbrio econômico-financeiro, que não contem com fontes “relativamente garantidas” para o financiamento de suas operações, e que ainda não tenham uma certa solidez. Onde, justamente, se concentram as “StartUps”.
Os ventos parecem ter “mudado” muito rapidamente, e nem todas as empresas se deram conta a tempo, o que custou a sobrevivência de muitas; e ainda levará tantas outras à venda, ou à quebra.
Para que consigamos efetivamente aprender com os erros cometidos, temos que observar com cautela e profundidade “o que aconteceu”, e encontradas as lições, aplicá-las – nas empresas já existentes, e nas que ainda serão criadas.
Um ponto que, portanto, nos parece central para esta reflexão e aprendizado é a importância de “revisitarmos” o que nos trouxe ao cenário atual, além do natural movimento cíclico das crises econômicas.
Paradoxalmente, mesmo com a triste e pesada realidade vivenciada pelo Planeta como um todo, ao longo da “Pandemia da Covid-19”, muitas foram as empresas que tiveram grande sucesso, e crescimento, naquele período, e várias receberam, inclusive, fortíssimas injeções de dinheiro; notadamente as “startups”.
A necessidade de “inovação” passou a ditar grande parte dos movimentos empresariais e financeiros, por alguns anos, especialmente em termos de automação, de robotização, e de inteligência artificial. E muitos empreendedores realizaram bons negócios naquele período.
Na mesma linha, setores “focados” em logística, saúde, “aplicativos”, e “realidade remota” (como trabalho e educação, dentre outros) viveram momentos de glória, e receberam fortíssimos investimentos; por vezes, mesmo em estágios bem iniciais de empresas e de projetos.
O “erro coletivo”, ao que tudo indica, foi grande parte dos mercados abraçar a ilusão de que o cenário não mudaria; pois mudou.
Aquele momento passou, e a situação econômica mundial, assim como a brasileira, já não é mais a mesma, em decorrência de várias questões como guerras, crises políticas, altas de inflação e consequentemente de juros, assim como grandes quebras de bancos e de empresas em geral.
O “capital”, tornou-se mais seletivo, e em vários aspectos e casos, agora é bem mais difícil conseguir dinheiro – o que vem afetando fortemente alguns setores, e grande parte das “startups” está precisando se adaptar para não morrer.
Todas as empresas, e em especial as “startups” precisam retomar a consciência de que precisam ser sustentáveis, e que o retorno dos investimentos é fundamental para a própria sobrevivência das organizações.
Precisamos, sim, de inovação permanente, nas empresas, na sociedade, nas empresas em geral, e na economia, mas sem retorno e sem lucratividade, não há sustentabilidade, e não há negócios realmente bons e duráveis.
O momento é de aprendizado e de ajustes rápidos, e quem conseguir alinhar esses dois fatores mais rapidamente, tenderá a conseguir atrair muito mais capital, e conquistar muito mais sucesso. Quem demorar, pode estar com os dias contados, a despeito das boas ideias.
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