Em um cenário corporativo cada vez mais dinâmico, exigente e integrado, liderar uma única área já é um desafio considerável. Agora, imagine liderar Compliance, Regulatório, Privacidade e PLD, ao mesmo tempo?
Parece missão impossível? Pois essa é a realidade de muitos profissionais, especialmente na frente de governança, onde a transversalidade é a regra, não a exceção.
Se você ocupa um cargo de liderança que exige essa multiplicidade de responsabilidades, este artigo é para você. Vamos falar sobre o conceito de liderança múltipla, suas dores e delícias, e como atuar de forma estratégica, sem renunciar à saúde mental, a visão de futuro e, claro, à integridade.
O que é liderança múltipla?
Liderança múltipla é o exercício de conduzir mais de uma frente organizacional, que pode variar entre áreas complementares ou completamente distintas. É diferente de multitarefa. Enquanto o multitarefa é operacional, a liderança múltipla reflete estratégia, visão e integração.
Ela exige do líder uma capacidade apurada de gestão de prioridades, alocação de recursos, leitura de contextos, adaptação de linguagem, e acima de tudo: clareza de propósito.
Segundo a pesquisa Global Human Capital Trends da Deloitte, 67% das empresas esperam que suas lideranças seniores atuem em funções interdisciplinares, promovendo impacto além de seu “quadrado tradicional”.
Os desafios (e dores) da liderança múltipla
Liderar múltiplas áreas pode gerar:
- Síndrome do cobertor curto: a sensação de que, ao focar em uma frente, outra ficará descoberta e poderia então, falhar em eficiência, robustez.
- Fadiga decisória: tomar decisões para diferentes escopos exige trocas cognitivas constantes e em curto espaço de tempo.
- Ruído de comunicação: cada área tem sua linguagem, stakeholders e KPIs distintos, alinhar tudo isso demanda um esforço intencional de tradução e integração ao contexto organizacional.
- Riscos éticos e reputacionais: quando as áreas lideradas têm funções de controle, há o risco de conflito de interesses, por isso, é preciso criar mecanismos que garantam adequada governança e independência das áreas.
Como resolver?
- Monte o quebra-cabeça: não importa quantas áreas estejam sob sua responsabilidade: a gestão precisa ser distribuída. Isso significa investir em coordenação, criar lideranças intermediárias e garantir que cada time tenha sua identidade, metas e autonomia respeitadas.
A clareza de papéis e definição de fluxos de reporte apoia na estruturação da governança dessas áreas, mas também é importante garantir momentos de convergência, para otimização de resultados.
- Crie uma narrativa que conecte áreas, pessoas e valores: a chave está em construir uma narrativa que una as áreas sob um mesmo propósito.
Exemplo: Compliance, Privacidade e ESG podem ser posicionados como pilares de integridade e confiança institucional, conectados à estratégia, reputação e ao relacionamento com stakeholders.
- Um líder, vários papéis: adapte-se ou torne-se irrelevante.
Liderança múltipla exige versatilidade comportamental. Você pode precisar ser mais técnico com o jurídico, mais empático com o RH, mais assertivo com a alta gestão e mais educativo com áreas operacionais.
No atual cenário, líderes com alta inteligência adaptativa (capacidade de mudar o estilo conforme o contexto) possuem mais chance de entregar resultados sustentáveis, especialmente quando realizam gestão de múltiplas áreas.
- Crie pontes, não castelos: você não precisa saber tudo, mas precisa conectar tudo. O que significa incentivar a colaboração entre as áreas sob sua liderança, promovendo reuniões interdisciplinares, dashboards integrados, comitês conjuntos e principalmente, uma cultura de aprendizado compartilhado.
- Priorize com método e coragem: nem tudo precisa da sua atenção
Nem tudo pode ser prioridade. E nem tudo precisa do seu envolvimento direto.
Use ferramentas de priorização como OKRs ou cascateamento por impacto e urgência. E o mais importante: tenha coragem de dizer “não” ao que não gera valor.
Lembre-se que delegar é um ato de confiança e não delegar, é um ato de vaidade. Enquanto líder, seu papel é servir, seu time e à cia e não o inverso.
- Cuide da sua saúde mental: liderar múltiplas frentes pode ser exaustivo, não apenas fisicamente. A sobrecarga mental é real.
É preciso programar pausas estratégicas e manter rituais de autocuidado que não sejam negociáveis.
- Mantenha o senso ético como guia
Quando lideramos áreas sensíveis como Compliance, PLD ou Privacidade, não basta entregar resultado. É preciso garantir que o “como” seja tão relevante quanto o “o quê”.
Sua conduta será referência. Seu silêncio, também. Por isso, cultive uma liderança que seja exemplo de integridade em todos os âmbitos.
Parafraseando Tio Ben “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”
Liderar diversas áreas é um reconhecimento da sua capacidade de pensar de forma sistêmica, influenciar decisões e gerar impacto, mas também o convite a um novo patamar de liderança: aquela que integra, eleva e transforma.
Por isso, liderar múltiplas frentes exige maturidade emocional, visão de longo prazo e acima de tudo, um compromisso legítimo com a coerência entre discurso e prática.
Como diria Peter Drucker:
“Gestão é fazer certas as coisas, liderança é fazer as coisas certas” e para vivenciar a liderança múltipla, precisamos dos dois.”
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Imagem: Canva