Os temas que têm demandado mais atenção dos profissionais em relação à gestão dos departamentos de Compliance estão relacionados com a busca por fazer mais com menos
Em razão da amplitude que a área ganhou e a complexidade inerente de lidar com riscos, velhos e novos, desafios não faltam aos profissionais de Compliance no Brasil. Mas da perspectiva de quem lidera a área nas empresas por essas terras, os desafios para gerir o dia a dia não mudaram drasticamente desde 2021, embora neste ano, algumas movimentações mereçam destaque pelo que representam. Por exemplo, pela primeira vez desde 2020, a necessidade de medir o retorno sobre o investimento da área de Compliance foi apontada como o principal desafio dos gestores de Compliance em relação ao dia a dia das suas operações, citada por 41,4% dos respondentes, ante 38,4% que responderam o mesmo na edição de 2023. Com isso, esse item superou a necessidade de estabelecer KPIs para a área que sejam compreendidos pela liderança das empresas, que viu uma queda relevante de 43,7% para 35,9%. Outra mudança relevante está no engajamento dos funcionários da empresa com o tema de Compliance. Neste ano, 33,9% mencionaram isso como um desafio, alcançando o tópico na terceira posição entre os maiores desafios no dia a dia de trabalho dos Compliance Officers. Já as respostas rápidas e adequadas às denúncias recebidas pelo canal de ética das companhias, é tratado como um desafio por 25,8% dos profissionais das empresas, bem menos que os 33,9% que disseram isso no ano passado.
Sob a perspectiva dos sócios e diretores de consultorias especializadas, dar respostas rápidas e efetivas a essas denúncias, feitas pelos funcionários no canal da empresa, é apontada como o grande desafio no dia a dia dos seus clientes na gestão do departamento. Nada menos que 48,1% dos respondentes apontaram o tópico. Já o percentual de sócios de escritórios de advocacia, que apontou esse tópico como um desafio dos seus clientes, de 31,4%, está mais alinhado com o percentual dos profissionais das empresas. Isso é explicado em parte pelo fato de que um número significativo de consultorias opera serviços de canais de denúncias para o mercado, o que acaba se refletindo, ao menos parcialmente, na perspectiva de alguns respondentes desse segmento. Em comum entre os prestadores de serviços (também por motivos óbvios), a falta de verba para que as áreas de Compliance desempenhem um bom trabalho é mencionada como um desafio por 46,8% dos consultores e 44,8% dos advogados (o tópico mais mencionado entre esse segmento, diga-se), muito acima dos 24,5% de líderes da área de Compliance que fizeram menção a limitação de dinheiro para operar como um dos seus grandes desafios. 43,8% dos profissionais da advocacia também destacaram a falta do tone at the top nos seus clientes como um grande desafio.
Perseguindo a eficiência
Com base nos dados, é possível entender que, de modo geral, as lideranças de Compliance estão mais envolvidas com a melhoria da gestão dos seus departamentos, buscando formas para fazer mais com menos, algo que vai ao encontro do desafio de demonstrar o ROI da área para as companhias. Quando questionados sobre quais temas relacionados com a gestão do departamento de Compliance estão merecendo mais atenção e orçamento, em praticamente todos viu-se um aumento na menção pelos profissionais que atuam nas empresas. Processos de revisão e atualização dos testes e controles de monitoramento de Compliance foram citados por 46,5% dos respondentes (41,1% em 2023); enquanto o interesse por novas tecnologias digitais para monitoramento do programa saltou de 33,9% no ano passado para 38,1% em 2024. A redução dos prazos para realização de diligências e aprovações pelo Compliance para as outras áreas da empresa (o SLA), que é um dos mais importantes resultados dessa busca por maior eficiência foi apontada como tema de atenção por 28,3% dos respondentes, quatro pontos percentuais a mais do que na pesquisa de 2023.
Controles internos é gap relevante
Acostumados a lidar com clientes de diferentes portes e setores, e em diferentes estágios de maturidade em relação aos seus programas e estruturas de Compliance, profissionais de consultorias especializadas e de escritórios de advocacia apontaram os controles internos falhos ou pouco efetivos como a maior falha no Compliance das empresas neste ano. Em ambos os casos, o avanço foi bastante significativo, de dez pontos percentuais. O problema foi apontado por 60,8% dos líderes de consultorias (ante 50% no ano anterior) e por 55,2% dos sócios de escritórios de advocacia (ante 45,2% em 2023). Já a ausência de Risk Assessment, sofreu uma queda menos acentuada, também entre os dois segmentos, indo de 51,1% em 2023 para 45,6% no caso dos consultores que responderam à pesquisa do Compliance ON TOP de 2024; e de 48,8% para 44,8% entre os advogados.
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Artigo publicado originalmente no Anuário Compliance On Top 2024.
Imagem: Envato