A governança é, muitas vezes, percebida como um conceito abstrato, de difícil apreensão imediata. Entretanto, em sua essência, trata-se de algo muito concreto: a forma como as decisões são tomadas dentro de uma organização. Quando se afirma que uma empresa possui boa ou má governança, o que está em questão não é apenas a existência de regras formais, mas a qualidade do processo decisório que orienta sua trajetória. É esse processo que confere legitimidade às escolhas e, em última instância, define a capacidade de gerar valor econômico, social e ambiental.
Um sistema de governança eficiente não se sustenta no improviso. Depende da combinação de três ingredientes fundamentais ou três vértices que formam o tripé da governança: pluralidade, agilidade e transparência. Estes vértices, se bem articulados, criam um processo decisório robusto, capaz de enfrentar dilemas complexos e responder a pressões externas sem se afastar da legitimidade interna.
O primeiro vértice é o da pluralidade. Decisões melhores nascem da capacidade de ouvir diferentes vozes, incorporar perspectivas distintas e considerar os diversos interesses em jogo. A governança precisa ser plural porque os problemas contemporâneos são, por natureza, multifacetados. Reduzir a complexidade a uma visão única gera vieses, limita horizontes e pode levar a equívocos estratégicos. Uma escuta ativa, que valorize a diversidade de pontos de vista, amplia a chance de que as decisões reflitam um equilíbrio adequado entre os interesses envolvidos. É certo que essa pluralidade demanda tempo e esforço: exige metodologias para organizar o debate, disciplina para registrar argumentos relevantes e liderança para articular consensos. Mas sem ela, a governança corre o risco de se tornar autorreferente, fechada em um círculo de opiniões restritas, distante da realidade.
Daí decorre o segundo vértice: a agilidade. Se ouvir diferentes perspectivas é essencial, decidir em tempo hábil é igualmente indispensável. O ambiente econômico, político e social em que as organizações estão inseridas é dinâmico, e a demora em responder a mudanças externas pode comprometer oportunidades, gerar ineficiências e fragilizar a credibilidade institucional. Uma governança que se perde em formalismos excessivos ou em debates intermináveis transforma o processo decisório em obstáculo. A boa governança deve, portanto, dominar a arte de conciliar pluralismo e eficiência. Significa reduzir burocracias desnecessárias, estabelecer fluxos de decisão claros e delegar responsabilidades de forma adequada. É encontrar o ponto de equilíbrio entre a profundidade da análise e a velocidade da resposta, sem jamais sacrificar a consistência.
O terceiro vértice é o da transparência, que confere legitimidade ao sistema. Sem clareza sobre como as decisões são tomadas, quais critérios foram utilizados e quais alternativas foram consideradas, abre-se espaço para desconfiança, resistência e conflitos. A transparência não se resume à publicação de relatórios ou à divulgação de números: trata-se de comunicar de maneira compreensível as razões que sustentam cada decisão. É permitir que todos os atores — internos e externos — entendam não apenas o que foi decidido, mas sobretudo o porquê. Essa prática fortalece a confiança, fomenta o engajamento e cria um ambiente em que divergências podem ser discutidas de forma construtiva, em vez de se transformarem em rupturas.
Esses três vetores não operam isoladamente. Eles formam uma engrenagem interdependente, cujo equilíbrio é dinâmico. Em algumas situações, a pluralidade demandará mais espaço; em outras, a agilidade será um imperativo. A transparência, por sua vez, deve permear todo o processo, funcionando como fio condutor entre escuta, decisão e comunicação. O desafio é justamente harmonizar essas dimensões de forma contínua, adaptando-se às circunstâncias, sem abrir mão dos princípios e propósito da organização.
Em síntese, a boa governança não se confunde com o cumprimento mecânico de regras ou com estruturas burocráticas complexas. Trata-se de um processo vivo, que exige sensibilidade para ouvir, coragem para decidir e habilidade para comunicar de forma clara e objetiva.
A pluralidade garante a riqueza de perspectivas, a agilidade assegura a capacidade de resposta, e a transparência confere legitimidade. É na interação entre esses elementos que se consolida um sistema decisório sólido, apto a lidar com os dilemas contemporâneos e a sustentar, de forma duradoura, a legitimidade e a eficácia de uma organização.


