Vivemos “tempos” de enorme turbulência, nacional e internacionalmente, com riscos e ameaças antes pouco consideradas, como os efeitos da polarização política, a gastança e o descontrole fiscal, taxas de juros e inflação elevadas, aliadas a constantes aumentos de tributos, no cenário doméstico, e em termos internacionais, o enfraquecimento das negociações e organismos multilaterais, o ressurgimento das guerras por território, batalhas comerciais com “tarifaços”, suspensão de suprimentos antes “garantidos” com a globalização, tensões regionais e conflitos que se ampliam, fenômenos e catástrofes climáticas etc.
As matrizes de risco de praticamente todas as organizações estão sendo ampliadas e reorganizadas, e o “planejamento estratégico” engloba períodos cada vez mais curtos, e sujeitos a intempéries “de todos os lados”.
Mesmo empresas e executivos experientes têm percebido que a competição e os desafios corporativos são cada vez maiores e mais complexos, de forma que a criatividade, a inovação, e a melhoria de processos tornaram-se fatores de competitividade, de aumento de lucratividade, de construção de valor – e, em alguns casos, de sobrevivência.
Essas e outras questões correlatas comprovam que empresas precisam melhorar e evoluir constantemente, e nessa linha precisam ser melhores todos os dias, nos mais diversos temas e aspectos, de maneira que em geral planejam essa melhoria e estabelecem metas (de melhoria).
Frequentemente, porém, algumas empresas parecem confundir objetivos com metas, e essas ficam tão abertas e teóricas, que nem sempre fazem sentido ou indicam de fato um caminho de melhoria e de evolução.
Por vezes vemos metas de evolução, em temas como governança corporativa, “compliance”, e sustentabilidade/E-ESG, que são apresentadas aos mercados (investidores, agencias reguladoras, parceiros e colaboradores etc.), geralmente em grandes e midiáticos eventos, que, em verdade, pouco de prático e de real apresentam.
As metas de melhoria no pilar da sustentabilidade, por exemplo, tem sido um (triste) exemplo desse fenômeno, que chamamos de “metas vazias”, ao estabeleceram apenas “números” um tanto soltos, a serem teoricamente atingidos após prazos enormes (alguns consideram mais de uma década), sem incluir um efetivo plano de transição, detalhando quantas e quais ações e etapas serão necessárias, de que forma serão implementadas, a que custo, por quem etc.
Essas metas, tão amplas, vagas e longas, na verdade não ajudam, nem a empresa, nem seus parceiros, nem a sociedade e nem os mercados, de forma que precisam ser combatidas, para que ao menos se consiga diminuir o seu uso, que pode, inclusive, significar “e-esg washing”.
Diversas organizações divulgam planos, programas e até selos, denominados “verde”, “e-esg”, “tolerância zero”, sustentabilidade, acessibilidade e mobilidade, inclusão, descarte adequado de resíduos e efetiva reciclagem, transição do plástico para produtos biodegradáveis, redução do uso da água e da energia elétrica, transição do uso de combustíveis fósseis e produtos derivados de petróleo, redução do uso de fertilizantes e defensivos agrícolas químicos, “carbono zero” etc., em geral sem metas claras e detalhadas; que de pouco “servem” na prática.
Temos que entender, e ajudar tais empresas a entenderem, que essas “metas vazias” não ajudam e com o tempo atrapalham muito as organizações, além de manchar suas imagens e afetar a credibilidade.
Agências reguladoras, segmentos de mercado e investidores, bancos e financiadores, parceiros e toda a cadeia de clientes e consumidores, precisam estar atentos para ajudar a identificar, mapear, entender e combater essa prática, sob pena de nossas organizações não melhorarem e não evoluírem.
“Equivocos” como esses demonstram desconhecimento, planos utópicos, e inclusive tentativas de enganar os mercados e precisam ser combatidos, inclusive com a “troca” de parcerias e de fornecedores, de empresas e de “marcas” que na verdade não são comprometidas com a evolução.
Algumas organizações começarão a ser “punidas”, pela regulação e pelos mercados nos próximos anos, pois em diversos países e “blocos comerciais” a taxonomia e as metas (reais) já estão sendo estabelecidas, e geralmente englobam toda a cadeia de valor de produtos e serviços.
No Brasil, inclusive, segmentos de listagem, bolsas de valores e o órgão regulador estão fixando critérios e parâmetros que já entrarão em vigor em breve, “cobrando” mais informação e mais transparência, visando, também, melhores condições de efetiva comparação dos esforços e do compromisso das organizações.
Dois temas são chave e ainda mais gritantes, e merecem destaque, justamente a transição energética e a descarbonização, que tem sido os principais exemplos de casos que podem vir a ser, inclusive, casos de “e-esg washing” quando objeto de metas vazias, muito longas, não detalhadas, e que não demonstram o caminho para a evolução constante e consistente.
Empresas que “divulgam” metas de descarbonização, ou de compensação, sem detalhamento, sem planos efetivos de transição, e com períodos muitos longos, podem não estar enfrentando esses temas com o devido cuidado.
E existem, ainda, empresas que “aparentemente” nem sequer entenderam a questão – e tem “lançado” programas de inclusão e sustentabilidade que na verdade não visam esses efeitos, e são apenas estratégias de marketing para vender mais produtos e serviços, com a “desculpa” de que seus produtos/serviços ajudam as pessoas, sendo que na verdade apenas pretendem vender mais, e lucrar mais.
Como mencionado acima, “o mesmo” tem acontecido com praticamente todos os demais pilares do tema, que quando não são ignorados, recebem igualmente “metas vazias”, em questões como acessibilidade e mobilidade, inclusão plena, respeito às diversidades nos modelos de negócio (e nos canais de comunicação com o cliente que em geral tem sido obrigado a usar canais digitais que nem sempre quer ou consegue usar), respeito ao verde (existente e não apenas as pueris e inócuas promessas de compensação de arvores assassinadas), respeito às pessoas com necessidades especiais e com questões neurológicas que mereçam atenção etc.
Precisamos nos unir, como profissionais nas organizações (nterna e externamente), em especial nas áreas jurídica, “compliance”, governança corporativa, planejamento estratégico, sustentabilidade/e-esg, para ajudar as empresas a entenderem a importância e a seriedade desses temas.
São questões importantes, muitas delas urgentes, que precisam receber maior empenho e seriedade, para que uma vez entendidas, sejam de fato implementadas com firmeza e clareza – visando melhoria e evolução efetiva.
Trabalhemos pelo fim das metas vazias nas organizações!!


