Os dados da pesquisa do Compliance ON TOP 2024 apontam para o ganho de capilaridade da área dentro do ambiente de negócios no País.
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Nos últimos dois ou três anos, não tem sido incomum escutar de profissionais do mercado de Compliance que a área tem perdido espaço nas empresas, que existe um processo de juniorização nos departamentos, que as empresas estão relegando a área a segundo plano, seja por uma questão de corte de custos, seja para que o Compliance tenha “menos condição” de atuar e de acompanhar as áreas de negócios das empresas, um prenúncio de que seus executivos gostariam de espaço para fazer negócios que um profissional de Compliance muito experiente não deixaria passar.
Entretanto, os dados da 7º edição da pesquisa do anuário Compliance ON TOP, o mais amplo levantamento realizado exclusivamente com lideranças de Compliance do Brasil, apontam para uma área cuja presença no ambiente das grandes empresas está firmemente enraizada e vem dando mostra disso ano após ano. Claro que existem percepções diferentes, muitas delas a partir de perspectivas pessoais, e sim, algumas grandes empresas cortaram níveis hierárquicos, eliminando uma vice-presidência ou mesmo uma diretoria, deixando o comando da área sob a responsabilidade de um profissional um nível abaixo no organograma.
Fato é que a base de profissionais participantes do Compliance ON TOP nunca foi tão grande quanto em 2024. Na base da pesquisa, apenas entre os líderes e gestores da área nas empresas foram considerados os inputs de 475 profissionais, de um total de 676 nomes qualificados quando se somam também as respostas das lideranças das consultorias especializadas e de escritórios de advocacia com atuação na prática de Compliance. No total, o número de respondentes qualificados da pesquisa do Compliance ON TOP 2024 é aproximadamente 11% superior ao da pesquisa do ano anterior. É sempre bom lembrar que só são considerados os profissionais de empresas que ocupem nível de gerência ou superior, diretores e sócios de consultorias especializadas e sócios de Compliance em escritórios de advocacia. Ou seja, trata-se de um ambiente bastante controlado e “elitizado”, no sentido de que são realmente profissionais em posições de liderança no organograma corporativo que participam da pesquisa.
Já no Guia de Profissionais de Compliance, o leitor e a leitora poderão conferir o perfil de mais de 850 líderes do Compliance no Brasil. Somado aos perfis de profissionais de Privacidade e Proteção de Dados também apresentados nesta edição, o Compliance ON TOP 2024 supera a mítica marca dos 1000 profissionais listados em suas páginas. Um fato e tanto. A título de comparação, a primeira edição do Compliance ON TOP, em 2018, apresentou o perfil de cerca de 300 profissionais.
Ao longo dos primeiros anos da pesquisa, a maior parte do crescimento do mercado se deu pelo avanço das estruturas em empresas que já tinham uma área de Compliance, em geral, grandes companhias multinacionais e locais, que investiram fortemente na ampliação das suas estruturas de Compliance. Na primeira edição da pesquisa, em 2018, quando questionados sobre quantos profissionais com dedicação exclusiva ao Compliance operavam na empresa, 20% dos respondentes disseram que apenas uma pessoa se dedicava exclusivamente ao tema. Outros 22,7% responderam que nenhuma pessoa na companhia dedicava-se exclusivamente ao Compliance. Na segunda edição, em 2019, ainda existiam 12% de respondentes (e, em 2020, 10,1%) que diziam operar em empresas onde ninguém se dedicava apenas aos temas da área (essa questão foi suprimida a partir da edição de 2021 do Compliance ON TOP).
O percentual de “euquipes” de Compliance veio caindo paulatinamente de 2018 até alcançar o ápice de 8,9%, em 2022. Esse número voltou a subir em 2023 e, mais uma vez, neste ano, quando atingiu 12% de participação. Se lá atrás se comemorou a redução do número de equipes de Compliance com uma única pessoa de forma quase obsessiva, agora é o momento de comemorar o aumento dessa participação. Porque no fundo, em vista desses dados, pode-se apontar que o avanço do Compliance, hoje, não se dá pelo fortalecimento das estruturas da área dentro de um grupo mais restrito de grandes companhias locais com histórico recente de problemas, ou das multinacionais de setores historicamente críticos, como Saúde, TI e Financeiro. Ao contrário, pode-se dizer que, agora, o Compliance cresce e avança à medida que a área ganha capilaridade dentro do ambiente de negócios de forma mais ampla no País, furando a bolha das grandes empresas e das companhias de setores mais regulados. Trata-se de mais uma excelente indicação de quão institucionalizada a área está por aqui. Para empresas de médio ou mesmo de pequeno porte que atuam em setores mais regulados, ou com um grau de risco um pouco mais elevado, o Compliance está se tornando uma área tão elementar quanto a Jurídica.
Com novas empresas investindo na área, é natural que elas o façam começando com estruturas menores, ou mesmo acopladas a outra área. Nesses casos, é bem provável que, na maioria das empresas, esse número nem cresça tanto no futuro. Como são operações de menor porte, muito provavelmente elas terão dificuldade para montar equipes com várias cabeças. Mas, sob a lógica cada vez mais preconizada da “abordagem baseada em risco”, a operação de Compliance precisa estar adequada ao porte e ao nível de exposição ao risco de cada empresa. E, verdade seja dita, em muitos casos e com o avanço das tecnologias e das possibilidades de digitalização da área, talvez nem seja necessário uma grande equipe para dar conta do trabalho. Mas o que é válido ressaltar é que, mesmo que ainda de forma embrionária, o Compliance está se fazendo presente em mais empresas, porque as suas lideranças, de um jeito ou de outro, entenderam que essa é uma função importante para seus negócios.
Muita dessa capilaridade se dá em razão dos reflexos das empresas atingidas pela Lava Jato, que foram obrigadas a cascatear seus programas para que eles impactassem ao máximo suas próprias cadeias de valor. A presença do Compliance em empresas brasileiras de menor porte é sinal de que as grandes empresas podem exercer um papel indutor de fato. Ao mesmo tempo, os avanços nas regras de governança e de licitação e contratação dos governos em diferentes esferas também puxou o Compliance para empresas que não tinham nada mais estruturado em relação ao tema. E vale lembrar que apenas profissionais de nível de gerência ou superior estão aptos a participar da pesquisa, o que faz com que os dados dos muitos coordenadores que responderam à pesquisa tenham sido descartados nas análises. De novo, o fato de uma empresa que não tinha nada passar a contar com um coordenador de Compliance, por exemplo, deve ser celebrado como um indicativo de avanço da área no sentido da sua capilarização, não tratado como um movimento de juniorização.
Ainda assim, mesmo com o avanço das empresas que contam com apenas um profissional, na média dos respondentes que lideram o Compliance nas empresas, as equipes de Compliance nas companhias representadas na pesquisa contam com 6,9 profissionais dedicados ao tema. Sejamos sinceros. Independentemente de situações pontuais de algumas empresas, com esse conjunto de dados obtidos diretamente da liderança da área, não se pode dizer que o Compliance perdeu força ou espaço no ambiente corporativo brasileiro.
Além disso, uma prática que começou como algo inerente às grandes multinacionais de capital aberto e de setores muito regulados encontra-se hoje totalmente aclimatada ao Brasil. Desde 2022, em torno de 60% da base de respondentes é de profissionais que atuam em companhias nacionais. Neste ano, esse percentual foi de 59,6%.
Reflexo de toda a movimentação descrita anteriormente, na pesquisa deste ano, as empresas com receita anual de até R$ 499 milhões avançaram 3,2 pontos percentuais na comparação com os dados do Compliance ON TOP de 2023, com as companhias com receita de mais de R$ 1 bilhão vendo a participação ceder de 54,7% para 53,4%. Entre as empresas de capital nacional, a faixa que apresentou maior crescimento foi a de empresas que faturam entre R$ 50 milhões e R$ 299 milhões, que saltaram de 10,9% para 14,8%.
Na estrutura de governança, a principal linha de reporte das companhias continua sendo para o CEO ou para o principal executivo da companhia (33,2%), seguido pelo reporte à vice-presidência ou à diretoria global ou regional de Compliance (24,8%). No caso dos respondentes que atuam em empresas brasileiras, 39,3% deles dizem ter como principal linha de reporte o CEO ou o principal executivo da companhia. Outros 24% respondem prioritariamente ao Conselho de Administração, o que é, teoricamente, o modelo mais avançado de governança corporativa da área, garantindo um maior grau de autonomia em relação à gestão da companhia.
O percentual de participantes da pesquisa que atuam em companhias com programas de embaixadores de Compliance caiu de 53,8% em 2023 para 51,3% na pesquisa deste ano. Na média, os respondentes que disseram operar esse tipo de programa em suas empresas contam com 21,5 embaixadores de Compliance. Considerando apenas as empresas de capital nacional, o percentual de respondentes que diz contar com um programa de Compliance na pesquisa deste ano é de 52,9%.
Das empresas respondentes, 91,6% contam com um comitê de ética interno (entre as brasileiras, o percentual é de 93,2%). O Compliance continua a ser, por larga vantagem, o departamento à frente dos comitês, com 59,2% de participação, seguido por 17,6% de casos em que é o CEO quem lidera o grupo, e outros 15,4% dizendo que a liderança do comitê recai sobre o Conselho de Administração.
Mais dedicação exclusiva
Na pesquisa do Compliance ON TOP 2024, é maior o número de profissionais que dizem se dedicar exclusivamente às atividades de Compliance nas empresas. Dos respondentes, 55,4% dizem lidar apenas com esse tema no seu dia a dia, ante 52,8% na pesquisa de 2023. Entre aqueles que, além do Compliance, atuam em outras “caixinhas” do organograma corporativo, a maior parcela, 45,2%, responde também por privacidade e proteção de dados. Aliás, 61,3% dos respondentes da pesquisa que atuam nas empresas disseram que ele ou alguém da equipe de Compliance da companhia assumiu a função de Encarregado de Dados Pessoais (DPO). O Jurídico é a segunda área com quem mais os profissionais participantes da pesquisa dividem a sua atuação, sendo mencionada por 44,3% dos respondentes que dizem não atuar exclusivamente com os temas de Compliance. Em 2023, foram 42,6% que responderam ao questionário. Em sentido oposto, o percentual de profissionais que dividem sua atuação com a área de Riscos (operacionais e de negócios) caiu de 44,1% no ano passado para 37% em 2024; no caso de Controles Internos, a queda foi 39,7% para 36,5%; e com a Auditoria Interna, de 29,9% para 24,2%.
Em relação à pesquisa deste ano, os três segmentos mais bem representados são os mesmos do último ano. O complexo de empresas das áreas de Saúde, Farmacêutica e Hospitalar segue sendo o com maior número de representantes, respondendo por 15,3% da base da pesquisa (ante 13,4% em 2023). Na sequência, os profissionais das instituições financeiras perfazem 12% da base (eram 11,8% em 2023); e os do segmento de Tecnologia com 11,2% de representação (ante 8% em 2023). Fecham o Top 5 dos setores com maior número de profissionais representados na pesquisa Engenharia, Construção e Infraestrutura, com 8,4%, e o Agronegócio, com 7,4%.
Gráficos
PERFIL DAS EMPRESAS NO COMPLIANCE ON TOP 2024
GRÁFICO 1
Faixa de faturamento das empresas
2024 | |
Até R$ 49 milhões | 12,1% |
R$ 50 milhões até R$ 299 milhões | 12,6% |
R$ 300 milhões até R$ 499 milhões | 7,9% |
R$ 500 milhões até R$ 999 milhões | 14,0% |
R$ 1 bilhão ou superior | 53,4% |
GRÁFICO 2
Número de funcionários
2024 | |
Até 99 | 10% |
100 até 499 | 15,2% |
500 até 999 | 13% |
1000 até 4999 | 28,2% |
5000 ou mais | 33,6% |
GRÁFICO 3
Evolução das empresas brasileiras no Compliance ON TOP
(% de empresas de capital nacional na base da pesquisa)
2018 | 45,0% |
2019 | 52,4% |
2020 | 53,3% |
2021 | 54,1% |
2022 | 60,6% |
2023 | 60,9% |
2024 | 59,6% |
GRÁFICO 4
Faixa de faturamento das empresas brasileiras na pesquisa
2024 | |
Até R$ 49 milhões | 14,8% |
R$ 50 milhões até R$ 299 milhões | 14,8% |
R$ 300 milhões até R$ 499 milhões | 8,6% |
R$ 500 milhões até R$ 999 milhões | 12,8% |
R$ 1 bilhão ou superior | 49% |
GRÁFICO 5
Empresas de capital aberto
(no Brasil ou no exterior)
2018 | 59,6% |
2019 | 50,2% |
2020 | 49,1% |
2021 | 51,7% |
2022 | 51,5% |
2023 | 45,4% |
2024 | 45,1% |
GRÁFICO 6
Segmentos com mais empresas representadas na base da pesquisa
Setores | 2024 | 2023 | 2022 |
Saúde/Farmacêutica/Hospitalar | 15,3% | 13,4% | 15,8% |
Instituição financeira/Meios de pagamento/Fintechs | 12,0% | 11,8% | 11,5% |
Tecnologia | 11,2% | 8% | 11,8% |
Engenharia/Construção/Infraestrutura | 8,4% | 10% | 9,9% |
Agronegócio | 7,4% | 6,2% | 6,2% |
Autoindústria | 4,8% | 3,9% | 5% |
Educação/Ensino | 4,6% | 4,2% | 2% |
Energia | 4,3% | 5,2% | 4,3% |
Varejo/Distribuição/E-commerce | 4,3% | 4,5% | 4,7% |
ESTRUTURA DE COMPLIANCE NAS EMPRESAS
GRÁFICO 7
Quantas pessoas compõem a área de Compliance da empresa
(* até 2020, os respondentes tinham a opção de apontar “nenhuma pessoa”).
1 pessoa | 2 pessoas | 3 pessoas | 4 pessoas | 5 pessoas | 6 ou mais | |
2024 | 12% | 14,4% | 21,1% | 10,9% | 7,3% | 34,2% |
2023 | 10,2% | 14,2% | 14,8% | 15,3% | 10,9% | 34,6% |
2022 | 8,9% | 13,2% | 16,9% | 12,9% | 16,4% | 31,7% |
2021 | 12,7% | 17,3% | 14,7% | 12,7% | 11,7% | 30,8% |
2020 | 14,2% | 19% | 14,6% | 11,3% | 5,6% | 25,2% |
2019 | 14,2% | 17,5% | 18% | 8,7% | 6,3% | 23,3% |
2018 | 20% | 16,8% | 10,9% | 5% | 9,1% | 15,5% |
GRÁFICO 8
Empresas com programas de embaixadores de Compliance
2018 | 50,7% |
2019 | 41,9% |
2020 | 47,0% |
2021 | 52,4% |
2022 | 55,6% |
2023 | 53,8% |
2024 | 51,3% |
GRÁFICO 9
Quem lidera o comitê de ética?
2024 | 2023 | |
Compliance | 59,2% | 58,4% |
CEO/presidente | 17,6% | 17,7% |
Conselho de Administração | 15,4% | 18% |
Jurídico | 5% | 3,3% |
Recursos Humanos | 1,8% | 1,1% |
GRÁFICO 10
Tem atuação profissional dedicada exclusivamente ao Compliance?
2024 | 2023 | |
Sim | 55,4 | 52,8% |
Não | 44,6 | 47,2% |
GRÁFICO 11
Nos casos em que a dedicação ao Compliance não é exclusiva, em quais outras áreas o profissional atua?
2024 | 2023 | |
Privacidade e Proteção de Dados | 45,2% | 46,5% |
Jurídico | 44,3% | 42,6% |
Governança | 39,3% | 41,7% |
Riscos (Operacionais e de Negócios) | 37% | 44,1% |
Controles internos | 36,5% | 39,7% |
Investigações internas | 32% | 33,8% |
Auditoria interna | 24,2% | 29,9% |
ESG | 18,3% | 18,1% |
GRÁFICO 12
A principal linha de reporte dos líderes de Compliance participantes da pesquisa
2018 | 2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024 | |
CEO/Presidente | 27,8% | 34,9% | 35,2% | 31,1% | 32,2% | 30,7% | 32,3% |
VP/Diretoria Regional/Global de Compliance | 26,8% | 24,8% | 19,9% | 28% | 24,4% | 23,4% | 24,8% |
Conselho de Administração | 17,4% | 17,9% | 16,6% | 17,3% | 17,7% | 18,4% | 15,8% |
General Counsel/VP/Diretoria Jurídica | 14,2% | 10,1% | 7,7% | 7,6% | 7,50% | 8,60% | 8,8% |
VP/Diretoria de Compliance Brasil | 8,3% | 7,50% | 9,20% | 6,8% |
Conheça o MBA em Compliance, o curso de pós-graduação da LEC.
Artigo publicado originalmente no Anuário Compliance On Top 2024.
Imagem: Envato