Pela primeira vez, a participação das mulheres na base de profissionais de empresas da pesquisa supera a masculina
“O número de mulheres em cargos de liderança já é bem expressivo. Mas o mais legal é enxergar o grande número de mulheres no segundo escalão das empresas, se preparando para ser a número um”. Essa fala, proferida por Raul Cury Neto, sócio-fundador da empresa de executive search VITTORE, uma das realizadoras do Compliance ON TOP, foi extraída de uma reportagem da segunda edição do anuário, publicado em 2019.
A presença das mulheres na área de Compliance sempre foi alta, o que vem sendo apontado desde a primeira edição da pesquisa. Mas, pela primeira vez, a participação delas na liderança da área nas empresas, na base do Compliance ON TOP, superou a dos homens. Em 2024, elas representam 50,4% dos respondentes. Era algo esperado? Sim, mas que merece muito destaque porque, de fato, representa um marco para a comunidade de Compliance no Brasil, um país no qual as mulheres, em vários territórios do ambiente corporativo, ainda encontram barreiras para ascender ao topo do organograma. Em sentido oposto, a presença de mulheres na liderança de escritórios de advocacia e consultorias especializadas caiu. No caso das profissionais que atuam em escritórios de advocacia, a participação das sócias foi de 38,1%, 4,4 pontos percentuais a menos do que na pesquisa do ano anterior. Entre as consultorias especializadas, a queda na participação feminina foi praticamente a mesma, de 4,3 pontos percentuais, para 40% da base do Compliance ON TOP 2023.
De volta às empresas, 28,4% dos respondentes ostentam títulos de diretor ou diretora, vice-presidente e Chief Compliance Officer (CCO). Esse é um recorte que, apesar de não poder garantir se quem ocupa esses cargos é o número 1 de Compliance da empresa (nem levar em conta gerentes que podem exercer a função de principal nome do Compliance dentro da companhia), nos permite ter uma ideia da questão da equidade de gênero no topo dos organogramas corporativos. Nesses casos, o percentual de mulheres é menor do que a média geral, ficando em 43%. Por outro lado, entre gerentes e heads, a participação das mulheres fica em 53,9%, o que deve garantir um aumento gradual da presença das mulheres nas funções de diretora ou CCO no decorrer dos próximos anos.
Em relação à idade média dos profissionais de Compliance que atuam nas empresas, ela voltou a subir, ainda que ligeiramente, para 43,3 anos, patamar mais alto já registrado pela pesquisa. O tempo médio na cadeira atual para essas lideranças é de pouco menos de quatro anos, com 11 anos de carreira na área de Compliance, um ano a mais do que na pesquisa de 2023, o que mostra que, mesmo que exista a ascensão de novos profissionais na liderança, uma suposta “juniorização” da área não encontra respaldo nos dados.
Para os sócios de Compliance nos escritórios de advocacia, a média de idade é de 43,5 anos, ocupando o cargo atual há sete anos e com 11 anos de atuação na área. Entre os consultores, a idade média dos respondentes é mais elevada, de 47,3 anos. Eles estão nos seus atuais cargos há seis anos e meio e trabalham com Compliance há mais de 13 anos, em média.
Embora se diga que o Compliance é uma área aberta a profissionais de diferentes formações, os dados da pesquisa reforçam uma concentração esmagadora de profissionais de três cursos: Direito (a esmagadora maioria), Administração e Ciências Contábeis. E, neste ano, os que são formados nos bancos de escolas jurídicas (seja como primeira ou segunda graduação) viram sua participação na base de profissionais de empresas crescer ainda mais, para 62,1%, ante os 60,3% registrados em 2023, enquanto a participação dos graduados em Administração e Ciências Contábeis caiu ligeiramente na comparação com o ano anterior. Mackenzie e PUC/SP seguem também como as universidades mais frequentadas pelos líderes de Compliance nas empresas que responderam à pesquisa do Compliance ON TOP 2024.
Também entre os profissionais que atuam nas empresas, 54,1% deles ostentam ao menos uma certificação profissional, e o CPC-A, emitido pela LEC (correalizadora do Compliance ON TOP) em parceria com a FGV Projetos, consolidou a liderança alcançada em 2023, com 21,8% de participação. A certificação emitida pela Society of Corporate Compliance & Ethics, a CCEP, foi obtida por 14,1% dos respondentes.
Pela pesquisa, 55,2% dos líderes da área nas companhias têm sua atuação restrita à operação brasileira, mas 31% respondem pelo Compliance para mais países da América Latina, e outros 13,8% exercem a liderança da área nas operações da empresa em mais de um continente.
Considerando negociações externas mais críticas a que os profissionais de Compliance podem estar expostos, as investigações internas envolvendo autoridades locais e aquelas envolvendo a alta administração em empresas de capital aberto são as mais citadas, com 25,7% e 22,9% de menções, respectivamente, entre os respondentes que atuam nas empresas. 21% já realizaram condução de investigações internas fora do Brasil, e outros 20,4% já lidaram com shadow investigations. A negociação de leniências no Brasil (9,5%) e no exterior (3,6%) foi a situação a qual a base de lideranças de Compliance nas empresas está menos exposta. Tendo a possibilidade de atuar com vários clientes, além de mais experientes, os profissionais que responderam à pesquisa e atuam na advocacia têm indicadores superiores de participação em todas essas situações; 30,5% deles já realizaram negociações de leniência aqui no Brasil e 15,2% já o fizeram no exterior. No caso dos consultores, 27,4% já vivenciaram uma shadow investigation e 33,7% participaram de investigações da alta administração de companhias abertas.
Gráficos
Artigo publicado originalmente no Anuário Compliance On Top 2024, com o título “Oficialmente, uma área mais feminina”.
Imagem: Canva