O mercado de investimentos brasileiro vive um momento histórico.
Nunca foi tão fácil abrir conta, comprar ações, investir em fundos ou explorar novas oportunidades, de criptoativos a plataformas digitais. Esse acesso ampliado é uma conquista: cada vez mais brasileiros aprendem a investir e assumem o protagonismo das próprias finanças.
Mas à medida que o acesso cresce, os golpes digitais também se sofisticam, explorando justamente o elo mais vulnerável do sistema: o investidor.
Segundo o Relatório Perfil e Comportamento dos Investidores 2024, da CVM, 86% dos participantes pretendem continuar investindo e 71% recomendariam o mercado de capitais a iniciantes. Os dados refletem um ecossistema em expansão, mas também revelam um desafio: como proteger um público cada vez mais diverso e conectado, que acessa informações por redes sociais e aplicativos, muitas vezes sem base técnica suficiente para distinguir oportunidades legítimas de armadilhas financeiras.
Quando o golpe fala a linguagem do investidor
Nos últimos anos, os crimes financeiros migraram das ruas para as telas. Golpistas aprenderam a se disfarçar de especialistas, analistas e até reguladores.
Entre os esquemas mais comuns estão:
- Pirâmides financeiras disfarçadas de fundos de investimento, marketing digital ou criptoativos.
• Perfis falsos de influenciadores financeiros com propostas de ganhos garantidos.
• Corretoras e gestoras não registradas na CVM que captam recursos sem autorização legal.
• Phishing financeiro, em que e-mails e sites falsos imitam plataformas legítimas.
• Deepfakes e chats automatizados que simulam consultores e atendentes de instituições reais.
A Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2024 mostra que 96% dos bancos já utilizam inteligência artificial e 100% operam em nuvem. Essas tecnologias elevam a eficiência, mas também ampliam o risco de manipulação quando caem em mãos erradas. Hoje, os golpes aprenderam a falar a mesma linguagem dos investidores: usam gráficos, projeções e jargões técnicos para transmitir uma falsa credibilidade.
O paradoxo da autoconfiança
O relatório da CVM aponta um dado preocupante: 41,8% dos investidores apresentam excesso de autoconfiança em suas decisões. Muitos acreditam estar imunes a fraudes por já dominarem conceitos de mercado, justamente o perfil mais visado pelos golpistas.
Além disso, 33% ainda não compreendem a relação entre juros e preço de títulos de renda fixa, e 42% afirmam buscar maior rentabilidade e diversificação, o que os leva a assumir riscos sem a devida verificação.
A equação é clara: autoconfiança somada à pressa resulta em vulnerabilidade.
Educar para investir é educar para se proteger
A Semana Mundial do Investidor (WIW) 2025, coordenada no Brasil pela CVM e promovida globalmente pela IOSCO, reforça que educação financeira é sinônimo de proteção. Investir bem é também investir com consciência: entender como o sistema funciona, reconhecer promessas ilusórias e saber onde buscar informação confiável.
O relatório da CVM mostra que 67% dos investidores ainda não conhecem os materiais educacionais da autarquia, embora quem já os acessou os avalie de forma amplamente positiva. Isso revela um desafio de alcance e uma oportunidade de ampliar o acesso a conteúdos educativos de qualidade, especialmente para o investidor comum, que aprende e decide sozinho em meio ao excesso de informações.
Ampliar o acesso à informação é criar anticorpos contra golpes. É garantir que cada pessoa tenha condições de entender, comparar e questionar antes de investir.
Cinco passos para investir com segurança
- Verifique o registro da instituição na CVM. Toda corretora, distribuidora ou gestora deve estar listada no site da Comissão de Valores Mobiliários.
- Desconfie de rentabilidades garantidas. Nenhum investimento sério promete retorno alto e fixo em curto prazo.
- Não confie em contatos via WhatsApp, redes sociais ou e-mails não verificados. Nenhum órgão regulador ou banco legítimo solicita dados pessoais por essas vias.
- Ative autenticação em dois fatores em suas contas financeiras e aplicativos de investimento.
- Compartilhe o aprendizado. A informação é uma forma de integridade coletiva. Quanto mais pessoas souberem se proteger, menos espaço haverá para fraudes.
Integridade é o novo investimento
A proteção do investidor é um pilar de compliance, governança e cidadania financeira. Num mercado cada vez mais digital, fortalecer a confiança exige esforço conjunto de instituições, reguladores e cidadãos.
Esse é o verdadeiro sentido da Semana Mundial do Investidor: mostrar que segurança e rentabilidade caminham juntas, porque investir com propósito é investir com consciência.
Em tempos de inteligência artificial e informação em excesso, o melhor retorno continua sendo aquele garantido pela educação e pelo pensamento crítico.
Artigo especial – Semana Mundial do Investidor 2025 (WIW)
Fontes consultadas
– Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Relatório Perfil e Comportamento dos Investidores 2024. Brasília: CVM, fevereiro de 2025.
– FEBRABAN / Deloitte. Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2024 – Horizontes de diferenciação e prioridades estratégicas da TI. São Paulo: FEBRABAN, julho de 2024.
– Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública – Segurança em Números 2025. São Paulo: FBSP, julho de 2025.
Este artigo integra a Coluna LEC durante a Semana Mundial do Investidor (WIW 2025), uma iniciativa global da IOSCO coordenada no Brasil pela CVM, dedicada à promoção da educação e à proteção do investidor.
As opiniões contidas nas publicações desta coluna são de responsabilidade exclusiva da Autora, não representando necessariamente a opinião da LEC ou de seus sócios.
Imagem: Canva