Não há dúvida de que, atualmente, é praticamente impossível distanciarmos o ambiente digital do analógico, bem como é inegável o impacto dessas duas realidades em nossas vidas. Cada vez mais vivemos um processo de digitalização e gamificação, que iniciou com a popularização da internet no começo dos anos 2000, impulsionando uma forte mudança nas relações interpessoais e nos hábitos de consumo da população. Como resultado, observamos um processo de busca frenética de informações, interação social, trabalho, compras e entretenimento no formato digital.
Isto fica bastante evidente quando pensamos em nosso dia a dia. É impensável, pelo menos para os pequenos comerciantes, não loja não ter um canal virtual de sua loja nas redes sociais e não interagir diretamente com os clientes através de aplicativos de trocas de mensagens. Aliás, chega a ser incomum até mesmo receber uma ligação (que não seja de um call center) nos dias de hoje. A relação estática de venda tradicional não foi abandonada, mas esta cada vez em mais em desuso e a utilização de plataformas centralizadas, como whatsapp, instagram e facebook, tem o seu valor atribuído justamente à troca de dados, interesses e interação entre os seus usuários. O lado negativo, como poderia se esperar, é a perda quase que completa da privacidade.
Estas formas de interação com os usuários e o quanto você está disposto a entregar dos seus dados e estar sujeito aos algoritmos da rede é conceituada como web 1.0, 2.0 e 3.0. Basicamente a web1.0 é aquela dos sites estáticos, em que as empresas apresentavam a sua história, seus produtos e ofereciam um telefone para contato. O google neste conceito foi imbatível, pois conseguiu construir uma ferramenta de busca que pudesse encontrar facilmente estas lojas. A web2.0 já trouxe o conceito de interação entre os usuários, conforme o exemplo mencionado acima. As empresas utilizam uma plataforma de interação social, produzem conteúdo e comercializam os seus produtos. Neste momento o que se viu foi uma digitalização das pessoas e o comportamento humano passou a ser controlado pelos algorítimos. Esta é a fase de dominância do facebook. E a Web 3.0? Essa terceira fase digitalizará o resto do mundo, todos os objetos e lugares serão legíveis pelas máquinas e estarão sujeitos ao poder dos algoritmos. E ela será dominada por quem? Muito provavelmente por ninguém e todos ao mesmo tempo – sendo uma Web descentralizada.
O conceito de descentralização também deve ser explorado e tem tudo a ver com o desenvolvimento da tecnologia das blockchains. Os exemplos mais comuns que conhecemos hoje em dia são de plataformas centralizadas que são detidas por empresas, o que significa que a qualquer momento um usuário ou informação poderia ser removida, sem aviso prévio. Na web 2.0 o conceito de centralização é a base do negócio e os proventos da exploração e utilização dos seus dados ficam a critério do proprietário da plataforma. Ok, mas o que seria então esta tecnologia descentralizada em blockchain e porque ela seria tão importante?
Na tecnologia em blockchain, a descentralização alude à transferência de supervisão e tomada de decisão de uma associação centralizada (indivíduo, corporação ou grupo de pessoas) para uma rede dispersa. As redes descentralizadas se esforçam para diminuir a necessidade de confiança que os usuários devem depositar uns nos outros e dissuadir sua capacidade de exercer autoridade ou comando uns sobre os outros. Além disso, a tacnologia em blockchain facilita a guarda de informações, não permitindo que estas sejam alteradas dentro de uma rede pela vontade de um grupo ou de um moderador, promove uma recuperação de dados mais eficiente, uma vez que cada “parte” da rede opera de forma indepenente e reduz a dependência dentro das organizações, uma vez que as informações são registradas e podem ser auditadas a qualquer momento.
Ok, mas isto quer dizer que cada um faz o que quer e do jeito que quer? Quem inicia este processo tecnológico e como se desenvolve? Calma! No próximo artigo eu falarei sobre o conceito de DAO – Descentralized Autonomous Organizations e casos práticos de uso da tecnologia blockchain. Porém, antes de terminar este texto, gostaria de deixar uma frase do Jeff Bezos, que certa vez disse, ao mencionar a forma com que a Amazon conseguiu uma fatia relevante do mercado de comércio digital: “Your margin is my opportunity”. Eu gosto bastante desta frase, pois traduz o conceito de diminuir a margem “centralizada” e incrementar a “descentralização” dos resultados. Isto nada mais do que o bom e velho conceito de dividir para multiplicar. Na web 3.0 você participa da rede da forma que desejar, não depende da atuação ou aprovação de terceiros, recebendo a sua parte por isto.
Até a próxima.
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