Se a adoção de medidas preventivas para mitigar riscos de práticas indesejadas no ambiente dos negócios, bem como a implementação de políticas e procedimentos para uma atuação responsável, sempre foram vistos como diferenciais de uma boa gestão empresarial, atualmente são identificados como mandatórios para a sobrevivência e perenidade dos negócios. Em razão disso, o compliance tem um papel fundamental de prevenir a aplicação de sanções decorrentes de uma dinâmica empresarial cada vez mais complexa.
Neste sentido, a análise da medição da reputação de empresas, como prática de gestão de compliance, é uma realidade. Há, inclusive, empresas dedicadas à publicação de relatórios específicos de reputação feitos com base em pesquisas de consumidores e cobertura midiática. Um exemplo deste tipo de empresa é a Rep Trak que, em recente publicação do relatório de estudo de reputação, revelou que as empresas com posições mais elevadas no “2021 Global Rep Trak 100” são aquelas que implementam iniciativas ESG (Environment, Societal Impact and Governance), critério que passa a ser considerado como componente mensurável de reputação, ampliando, a partir deste ano, o escopo dos componentes mensuráveis que subsidiam referido relatório.
Alcançar um posto elevado no ranking de reputação está sendo um desafio cada vez maior para as empresas, que devem ter em sua equipe colaboradores capacitados a observar esses dados, buscando sempre considerar que a ideia de economia global traz consigo a percepção de uma sociedade civil global, cada vez mais sensível às questões relacionadas à responsabilidade socioambiental, maior transparência no ambiente corporativo, bem-estar dos colaboradores e respeito aos stakeholders (funcionários, consumidores, investidores, etc.).
Neste contexto, os gestores das empresas e suas equipes são instados a acomodar as preocupações e expectativas sociais nas suas estratégias de negócio, fazendo com que a empresa, no âmbito de suas atividades, contribua positivamente com a sociedade, minimizando danos e dedicando esforços para a realização de comportamentos responsáveis.
Seguindo essa tendência mundial, a gestão do compliance também é uma realidade na indústria da moda – aqui considerado o setor têxtil e confecção, joalheria, calçadista e varejo – , e por se tratar de segmento que, em grande medida, se sustenta de ativos intangíveis como marca, imagem e reputação, as posturas empresariais negativas, tais como crimes ambientais, violações de direitos humanos e assédio moral e sexual, ganham maior visibilidade e são rechaçadas pela mídia e consumidores, sobretudo pelas gerações mais jovens gerando, em última análise, impacto financeiro e na imagem corporativa.
Assim, um profissional preparado e atualizado com as melhores práticas em termos de compliance tem um papel altamente agregador para a indústria da moda, tendo em vista que atua estrategicamente em favor do negócio visando a prevenção ou diminuição dos riscos de sanções e responsabilidades, a potencialização da percepção de confiança da sociedade, a fidelização dos clientes e a ampliação da capacidade para atrair investidores, contribuindo, assim, para o posicionamento positivo da empresa nesse mercado economicamente relevante e de elevada concorrência.
Este artigo foi escrito por Profª. Dra. Regina Ferreira, Coord. da Pós-graduação em Fashion Law da Associação Santa Marcelina
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