2018 será um ano naturalmente complicado com um cenário de recuperação econômica fraca cerceada por um quadro eleitoral política e juridicamente muito nebuloso e entremeado por uma Copa do Mundo, que sempre movimenta (ou paralisa, a depender do ponto de vista) o País. Já são muitas “complicações” para se preocupar. Mas não é tudo.
Para os profissionais de compliance, 2018 tem tudo para ser o ano mais desafiador de todos desde que a aprovação da Lei Anticorrupção, que iniciou uma nova era para a área no Brasil e contribuiu, junto com a Lava Jato, para que o tema ganhasse lugar de destaque na agenda corporativa brasileira. Será um ano com menos “barulho” sobre o assunto e que vai demandar muito mais mão na massa.
No mundo dos negócios, será preciso provar e revalidar constantemente a prova de que o compliance agrega valor para o negócio. Embora a corrupção continue sendo um tema quente na agenda da sociedade brasileira, esse é um assunto que acaba sempre reverberando mais pelo seu aspecto político do que pelo lado dos negócios no Brasil, por mais que uma coisa esteja intrinsicamente ligada a outra em praticamente todos os grandes escândalos que já vivemos. No ambiente corporativo, as discussões sobre a necessidade de implementar programas de compliance deve baixar da fervura dos últimos anos para uma temperatura ainda quente, mas nem tanto. A disposição também deve ser menor nas empresas que ainda não implementaram o programa. Vai ser mais raro ver empresas desesperadas para terem um programa rodando de uma hora para outra.
A situação pode esquentar novamente caso um maior número de grandes empresas privadas faça pressão (efetiva) a seus fornecedores, e os fornecedores deles a estabelecer um padrão básico de compliance para seguir fazendo negócios com elas. Trata-se de uma grande tendência, sem dúvida, cujos impactos devem ser sentidos de forma consistente, mas num período mais longo de tempo.
De qualquer forma, 2018 será o ano em que começaremos a distinguir com mais clareza as empresas que estão realmente comprometidas com um ambiente de negócios mais justo e transparente, daquelas que possuem programas de compliance apenas de papel.
Neste ano, também será a hora dos profissionais de compliance mostrarem o seu valor de fato. Muita gente que entrou na onda do compliance pensando em garantir lugar num mercado em ebulição deve mudar de ares, num processo natural de depuração. Os que ficarem, precisaram ter a capacidade de manterem-se atualizados com as mudanças no contexto regulatório nos quais suas empresas estão inseridas e, o mais difícil, estarem atentos a mudanças na sociedade que vão impactar de diferentes formas o seu trabalho como compliance officer. Temas novos e quentes como assédio sexual, diversidade, além do hoje onipresente compliance digital, trazem novos desafios e demandam novos conhecimentos dos profissionais. Quem não conseguir se atualizar e perder o fio da meada, dificilmente se manterá na carreira por muito tempo.
Para fechar a agenda do ano, os profissionais do compliance financeiro terão que lidar com um conjunto de novos regulamentos e com o avanço dos diferentes reguladores do mercado, que ganharam novas ferramentas para acompanhar e, se for o caso, punir de forma bem mais assertiva quem atuar fora das regras do jogo. Sem sombra de dúvidas, será um ano de muito aprendizado para o setor.
Mais do que nunca, a hora é de trabalhar e de se manter atualizado.
Alessandra Gonsales é sócia-fundadora da LEC e sócia de compliance do W. Faria Advogados. Graduada em Direito pela PUC-SP, é pós-graduada em Direito Empresarial pela PUC-SP e mestre em Direito Comercial, tendo conduzido suas pesquisas na Universidade de Harvard – Boston/EUA. Com MBA pela FGV/SP, é professora de cursos da LEC e de pós-graduação na área de compliance. É palestrante em eventos nacionais e internacionais e autora de diversos artigos sobre compliance anticorrupção e financeiro.
Este artigo foi publicado originalmente na edição #20 da Revista LEC