As mudanças, também chamadas de alterações ou de crises climáticas afetam a todos (queiramos, acreditemos, percebamos – ou não), e afetam o seu negócio também. Perceba como enquanto é tempo!
Tornou-se fundamental para as organizações que percebam os impactos, diretos e indiretos desse tema no seu negócio, para que consigam mapear, precificar e de alguma forma ajustar seus planos, matrizes de risco, investimentos e planejamentos de forma a lidar com eles da melhor forma possível.
Esse tema vale muito, muito dinheiro. E em alguns setores e segmentos pode custar o “negócio inteiro”.
Há algum tempo vimos sustentando que as matrizes de riscos das organizações são cada vez mais importantes, e precisam ser constantemente aprimoradas e atualizadas. E que as diretorias, os conselhos, executivos e investidores em geral precisam estudar profundamente os riscos e seus impactos.
Na atual década, vários riscos antes desconhecidos (ou não considerados) ganharam destaque, como questões geopolíticas globais, crises sanitárias, tensões sociais, escassez de insumos e de matérias primas, concentração em poucos fornecedores, “alguns possíveis excessos da globalização” e tantos outros; com maior ou menor enfoque neste ou naquele fator, a depender do mercado e do segmento específico.
Esse amadurecimento dos mercados, e das organizações, é extremamente importante e salutar, pois apenas conhecendo os seus riscos, e estimando as consequências e os impactos possíveis, conseguem tentar evitar certos acontecimentos, planejar outros cenários, propor alternativas, e precificar.
Um dos principais riscos que todas as organizações precisam considerar de forma crescente, além do reputacional e de imagem, é o binômico socioambiental – de forma ampla. Nunca é demais lembrar que podem “acabar com a sua organização”.
Logicamente, há questões éticas, de sustentabilidade, de governança corporativa, de consciência, de responsabilidade, de “compliance” e jurídicas a considerar, mas chamamos a atenção para mais pontos e aspectos que pouco são abordados atualmente. Lembramos, assim, que as “mudanças/crises climáticas” afetam – e muito – todos os negócios, inclusive o “seu”.
No tocante as tensões sociais, e aos riscos e às mudanças (e crises) climáticas vemos várias dimensões e aspectos, pois não se pode limitar, com responsabilidade, “apenas” os impactos criados/gerados direta e especificamente pela organização em que atuamos, como também por todo o eventual grupo econômico, bem como a cadeia de valor. E temos que considerar, ainda, os efeitos e consequências do local das operações, bem como no que se refere a colaboradores, fornecedores, parceiros e clientes.
Com o foco específico das mudanças e crises climáticas (incluindo os chamados “desastres naturais’ – que nem sempre são tão “naturais” assim, pois vários deles, de alguma forma, são provocados), abordamos neste artigo alguns dos pontos principais, que tendem a afetar direta e/ou indiretamente toda a sociedade envolvida.
Os impactos das mudanças climáticas são muitos, e de diversas formas, pois com o aquecimento global, o aumento da poluição do ar e das águas, a perda do verde e das florestas (incluindo toda a fauna, mas também a flora), perda de nascentes, derretimento de geleiras, secas severas, prolongadas e mais frequentes, desmoronamentos, queimadas/incêndios e enchentes, inundações e tantos outros ‘fenômenos”, danos à infraestrutura, perdas de vidas, afastamentos… a “lista” de consequências é enorme.
São questões de consciência, de solidariedade, humanitárias e de responsabilidade, mas também econômicas; que precisam ser consideradas pelas organizações – e por todos nós.
Num primeiro momento, e na maioria dos casos, sente-se um certo desconforto, e danos à saúde e à qualidade de vida, mas em tantos outros (geralmente em episódios mais graves) existem deslocamentos forçados das pessoas (e de animais), acidentes, ferimentos e mortes, perdas materiais para pessoas, cidades, e organizações, por vezes perda de cultura, história e até de identidade de grupos e comunidades, dentre vários outros.
É evidente que em muitos (talvez em todos os) aspectos a nossa vida (de forma geral) mudou para situações no mínimo desagradáveis e que implicam em perdas de vidas, de dignidade, e de negócios. E não apenas no Brasil.
Temos observado, por exemplo, danos ao setor agropecuário, em escala mundial, com perdas de produção, aumento de preços e muitas vezes escassez; afetando em certa medida a todos, mas alguns grupos e pessoas de forma ainda mais evidente. Sem contar toda a infraestrutura (portos, aeroportos, estradas, ferrovias, hidrovias, usinas, cabos, armazéns, estoques, equipamentos, instalações etc.).
Em diversos outros casos, secas severas e prolongadas, queimadas e incêndios, bem como chuvas incomuns, tempestades, ciclones, furacões etc. levam a dados materiais e pessoais, mortes e perdas para todos, mas também, e especialmente no campo corporativo, como mencionado acima e aqui “recordado” para destacar: perdas de produção, de matéria prima, de infraestrutura, de estoques, de equipamentos e instalações, logística etc.
Áreas afetadas e por vezes arrasadas, por seca, fogo, desmoronamentos, inundações e eventos “similares’ afetam as organizações de muitas maneiras, diretas e indiretas, pois “não geram danos apenas a elas próprias” – uma vez que perdem pessoas, colaboradores, fornecedores e clientes. E a depender do caso e da situação podem perder o próprio negócio.
De outro lado, essa “situação toda” afeta, também, as pessoas de modo geral em suas finanças (pela perda do trabalho e do sustento, por perdas diretas materiais etc.), levando à mudança de hábitos (inclusive de consumo) e alteração de prioridades.
Mesmo itens de primeira necessidade e básicos, já não são adquiridos por pessoas que “antes os consumiam”, e que foram forçadas a “ajustar”, temporária ou permanentemente as suas compras (tanto de produtos quanto de serviços, incluindo alimentação, em casa ou “fora dela’, transporte, habitação, vestuário, lazer, cultura etc.). A efetiva demandas pelas famílias mudou, e isso afeta praticamente todos os negócios.
A inflação e a carestia, em muitos casos puxadas pelo desajuste fiscal, crise cambial e conflitos (por vezes mundiais), são afetadas também por questões climáticas, temporária ou permanentemente, e todo o mercado corporativo, em maior ou menor escala, e de forma mais ou menos imediata sente os impactos.
Esses (e outros) riscos climáticos e suas consequências, precisam ser, também, mapeados, estimados, planilhados, e precificados pelas organizações, pois tanto os impactos diretos quanto os indiretos lhes trarão “problemas”.
Considerando, por exemplo, localidades, comunidades e “negócios” que viviam de uma certa atividade econômica que tenha sido afetada por questões climáticas (um rio que ficou poluído ou sem peixes, uma praia que sofreu desmoronamento ou que foi “tragada pelo mar”, áreas que se tornaram impróprias para a vida, ou que “viviam” de atividades de inverno e de neve – dentre muitas outras) podem nem ter mais alternativa ou condições de retomada/reconstrução. E a depender da magnitude e do impacto, “tudo” o que em função de tais localidades ou atividades existisse, pode vir a “quebrar”.
A depender do caso, as organizações podem ficar sem insumos ou produtos, sem estoque, sem fornecedores, sem transportes ou estrutura de transporte, sem condições de armazenamento, sem força de trabalho, em si mesmas e/ou em parceiros, com riscos e danos que muitas vezes são enormes. Seu negócio pode ser afetado por perdas parciais ou totais (bem como danos) a todo tipo de infraestrutura e logística, no “campo” ou nas cidades.
E destacamos, também, como mencionado acima, o risco da perda do poder de compra, ou mesmo do ímpeto pelo consumo de seus clientes e consumidores, por conta de todo esse contexto.
Sabe-se que até mesmo gêneros de primeira necessidade têm sido deixados “nas prateleiras do comércio”, em função da perda da capacidade de compra da população. Ou da capacidade de produção, de armazenamento, de escoamento, de transporte em geral etc.
Planejamentos estratégicos, modelos de negócios, campanhas promocionais, dimensionamento de estrutura, investimentos, contratações, parcerias, orçamentos, matrizes de risco e tantos outros pontos centrais da gestão das organizações precisam ser atualizados e ajustados para incluir, também, todo o contexto climático e suas consequências.
Sustentamos que já não existe negócio, organização, produto ou serviço, em qualquer lugar, que não sofra, de alguma forma, impacto das questões climáticas. E é, portanto, necessário e urgente, que cada organização (e em muitos casos unidade a unidade) reavalie todo o contexto e a forma como lhe afeta.
Independentemente de ideologias, convicções, partidos, e de diversos aspectos da política, nacional e internacional, não se pode (e nem deve) ignorar que todos somos responsáveis, mas também afetados/impactos por conta dessa realidade.
Nos casos em que não sejamos diretamente afetados, certamente nossos fornecedores, parceiros, clientes, colaboradores, consumidores, vizinhos, familiares etc. o são – e de alguma forma somos impactados.
Em alguns casos e episódios os danos são “passageiros” e o que foi destruído e perdido pode ser reconstruído, mas nem sempre!
Recomendamos, assim, que em todas as organizações e em todos os negócios, as matrizes de risco e os “planejamentos” e orçamentos sejam revistos, atualizados e ampliados, para considerar, também, o aspecto clima (em toda a sua magnitude).
E é papel de todos que atuam com, para, ou nas organizações, especialmente em áreas diretamente ligadas a planejamentos, riscos, fluxos e ferramentas de gestão e de controle, estratégias, orçamentos, integridade, reputação e tantas outras, seja como investidores, executivos, consultores, conselheiros ou de outros grupos. Reflitamos e encontremos maneiras de lidar com todo esse “novo cenário”.
Percebamos todo o impacto desse tema nas organizações e atuemos para que as organizações de fato conheçam os riscos, as consequenciais, e o que mais lhe puder afetar, para que se mobilizem e ajustem. Papel de todos nós como profissionais de risco, de “compliance”, de finanças, jurídico, sustentabilidade, estratégia, planejamento, diretorias e conselhos etc.
A quem eventualmente considere que o tema não seja relevante, que não lhe afete, ou mesmo que ajustar os negócios a essas novas realidades seja difícil, burocrático, e “caro”, deixamos uma provocação positiva no sentido de se antecipar que “não fazer nada”, ou imaginar que o seu negócio não será afetado “será efetivamente muito mais caro”.
Conheça o Curso de Liderança ESG + Certificação CPESG da LEC.
Imagem: Envato
As opiniões contidas nas publicações desta coluna são de responsabilidade exclusiva do Autor, não representando necessariamente a opinião da LEC ou de seus sócios.