O tema ESG tem recebido a atenção de diversos stakeholders: empresas, mídia, reguladores, investidores, mercado financeiro, entre outros. Com isto, muitos profissionais têm se interessado pelo tema, estudado, lido a respeito, e buscado meios de aplicar o conhecimento ou mesmo promover uma migração de carreira. Mas afinal, de que forma o profissional de Compliance pode colaborar? O entendimento do contexto do Compliance Sustentável certamente pode ajudar.
Uma jornada ESG de verdade certamente requer a elaboração da matriz de materialidade e de um plano de ação, considerando a estratégia e o contexto da organização. Tipicamente esta não é uma expertise de Compliance, mas pode ser encontrada no mercado. Neste item, o acesso à Alta Liderança pode ser utilizado pelo Compliance para trazer conscientização e colocar os holofotes no tema ESG e na importância desta pauta. Ter o devido patrocínio do topo, fará total diferença para o sucesso desta empreitada, assim como contar com profissionais com a experiência necessária.
Dentro do próprio Programa de Compliance, há diversas ações que podem ser feitas. O código de conduta ética, por exemplo, pode ser atualizado para contemplar de uma forma mais ampla a temática ESG, nos valores e compromissos, nas declarações de compromissos com a boa governança e com a transparência, num posicionamento contundente e legítimo contra a toxicidade, a agressividade, o desrespeito e os crimes nas relações laborais, no relacionamento justo e ético com todos os stakeholders, no respeito aos direitos humanos, à biodiversidade e ao planeta, entre outros. E mais do que nunca, o walk the talk deve se fazer presente, de modo a não cair no ESGwashing. Incentive e contribua para a elaboração das políticas e normativos internos que sejam necessários, como a política de sustentabilidade.
Na parte de treinamentos e comunicação, é possível ter uma atuação mais direta, trabalhando com temáticas como prevenção do assédio moral e sexual, promoção da diversidade, equidade e inclusão, letramento racial, combate ao machismo, integridade e capitalismo de stakeholder, entre outros. Estas ações podem ser uma excelente oportunidade de fortalecer a parceria com as áreas de Gente, Sustentabilidade ou de Diversidade da empresa, por exemplo. É fundamental lembrar da importância de cobrir os parceiros, terceiros e fornecedores com esta iniciativa. Há ainda a oportunidade de mostrar os links pouco óbvios, através de ações de conscientização em Compliance Sustentável: relacionamento de crimes financeiros e o desmatamento das florestas e o garimpo ilegal; ou da associação de produtos baratos com mão-de-obra forçada e condições de trabalho degradante; etc.
No processo de due diligence, a análise deve ir além da temática anticorrupção, e deve cobrir os aspectos de privacidade, cybersegurança, compliance trabalhista e ambiental, de responsabilidade socioambiental, e tantos outros que o ESG abarca. A análise deve se basear em riscos, e no que é material para cada setor. Se é um fornecedor de data center, a questão de segurança de informações e uso de energia ganha destaque, assim como se é um fornecedor industrial, a questão de compliance ambiental, gestão de efluentes e segurança no trabalho recebe os holofotes. Além disto, é altamente recomendado a realização de auditoria junto aos fornecedores, em especial os mais críticos.
Na parte de gestão de riscos, vale o trabalho em conjunto com a área responsável para que o mapeamento de riscos corporativos (dentro do enterprise risk management) seja realizado, e contemple também os riscos ESG. O mapeamento de riscos de compliance se soma a este esforço, mas não o substitui. Um bom teste é entender de que forma a organização está preparada e será impactada pelas mudanças climáticas. Se não existe esta informação no mapa de riscos estratégicos, ele está incompleto. Da mesma forma, vale lembrar que a matriz de riscos corporativos deve estar alinhada com a matriz de materialidade ESG.
Por fim, o canal de denúncia e o canal de acolhimento, assim como o processo de tratamento e apuração, bem como a equipe que realiza as investigações, devem estar preparados para lidar com o contexto ESG e suas múltiplas temáticas. E tenha os KPIs necessários para acompanhar o desempenho do seu Programa de Compliance, e assim conseguir tomar as decisões necessárias para contribuir ativamente com as iniciativas de Compliance e ESG da sua organização.