No Brasil, segundo dados do SEBRAE, há aproximadamente 7,4 milhões de micro empresas e empresas de pequeno porte no Brasil. Juntas elas são responsáveis por 30% do PIB e empregam em torno de 54% dos trabalhadores formais do setor privado. Os números consolidados impressionam e mostram toda a sua força e relevância na economia brasileira.
Mas a pergunta que faço é: será que a forma como elas são geridas esta alinhada às boas técnicas de gestão empresarial e compliance? Os profissionais ou mesmo os sócios que as fundam e normalmente conduzem a sua administração aplicam nas rotinas dessas empresas as boas práticas de gestão, como por exemplo controle de fluxo de caixa, controle de estoques, gestão de custos entre outras?
Essa é uma questão de relevância, já que em crises como a que estamos vivendo mostram muitas vezes fragilidades nesses negócios que poderiam ser minimizadas se fossem adotadas boas práticas de gestão. Mesmo num país onde a carga tributária e a burocracia representam um desafio para os negócios, é possível a previsibilidade de cenários desafiadores e consequentemente a adoção de medidas que amenizem os seus efeitos.
A adoção de um programa de compliance e de politicas e controles internos efetivos poderia também auxiliar substancialmente as companhias a “fecharem a torneira”, pois permitem uma melhor gestão dos processos internos, garantem a existência e cumprimento dos fluxos de aprovações e ajudam a evitar fraudes. É comum pensar que um programa de compliance se resume a apenas evitar a corrupção, mas vai muito além disso.
Nesse contexto chamo a atenção para os profissionais de contabilidade que são aqueles mais próximos da gestão dessas empresas. Esses profissionais possuem a expertise necessária para entregarem muito além das obrigações das empresas com os órgãos de governo. Eles podem prover o empresário de dados e informações que lhes darão uma dimensão exata dos riscos e da saúde de seu negócio, do resultado econômico de sua atividade, podem traçar cenários futuros, indicar onde alocar investimentos, dar suporte inclusive em matéria operacional, já que possuem dados, por exemplo, de custos das operações.
É preciso que o empresário e o contador interajam para além da burocracia, cabendo ao contador o papel de fomentar seus clientes de análises, indicadores, informações relevantes do negócio e do cenário em que eles estão inseridos. Aliás, a criação de medidores de desempenho é uma outra atividade fundamental dentro da criação de um programa de compliance, pois ajudam a companhia não apenas a evidenciar a existência deste programa, mas a monitorar a sua eficácia.
Ao contador inclusive, cabe o papel de ensinar ao empreendedor a postura que devem manter à frente do seu negócio, ensinando-lhe, quando necessário como agir frete às demandas de suas empresas. Acredito que uma atuação com este enfoque melhorará a gestão das pequenas e médias empresas e isso refletirá positivamente nos resultados que elas entregarão aos seus sócios e também à sociedade, esta última, por meio do enfoque na entrega de um bom produto/serviço.
Há um universo interessante para ser explorado na gestão das pequenas empresas e aqueles profissionais que direcionarem a sua atuação neste cenário encontrarão boas oportunidade de agregarem valor aos seus serviços e contribuirão de forma bastante relevante para ajudar a transformar a gestão dos pequenos negócios no Brasil. Essa é uma questão muito relevante no Brasil e precisa de muita atenção.
Daniel Sibille é Diretor de Compliance LATAM da Oracle. Co-autor dos Livros “Compliance, A nova regra do jogo”, “The guide to corporate crisis management” e do e-book “Os pilares do programa de Compliance”.
Odeilton de Jesus Mota é Contador Especialista em Perícia Contábil Judicial e Finanças Corporativas e Pessoal.