Superadas as primeiras barreiras para a conscientização das organizações sobre a urgência de se implementar a mentalidade, a prática, a cultura e o programa E-ESG, e construídos os primeiros esboços do que se pretende realizar, é muito comum que “logo” venham as expectativas sobre os “resultados”.
Na primeira etapa, geralmente já se conseguiu explicar à alta gerência (e envolvê-la) que não se pode tratar os Programas E-ESG como meros projetos, por serem permanentes e no sistema da melhoria/evolução continua (como os de “Compliance” e de “Governança Corporativa”), além de não se poder indicar o seu final, nem os resultados esperados na concretização do Programa, e nem mesmo a quantidade de pessoas e de investimento para o Programa todo. Lidamos com uma evolução permanente e continua!
E, idealmente, também já conseguiu envolver a organização como um todo e incluir a questão da consciência e do propósito no modelo de negócio e na estratégia geral (até mesmo para evitar iniciativas meramente esporádicas e “esgwashing”).
De outro lado, porém, essa conscientização não afasta a necessidade de se apresentar resultados, de se medir a efetividade do que se faz, e de se otimizar recursos – e precisamos lidar com essa situação e essa realidade.
Nesse contexto, temos observado que as equipes e áreas dedicadas à sustentabilidade e ao E-ESG, frequentemente ligadas às de “Compliance”, de Governança Corporativa e/ou o Jurídico, têm sido desafiadas a apresentar propostas de aferição dos avanços e dos resultados, bem como das métricas aplicáveis, para que se consiga acompanhar a evolução dos programas (e o “resultado” obtido/alcançado periodicamente).
Esses desafios são tão atuais quanto universais, pois “o mundo todo” está pesquisando e discutindo essas mesmas questões, e tentando criar maneiras de registrar os avanços e as conquistas, a quantidade e a velocidade de implantação de pilares, o ritmo com que se “caminha”, a relação com os investimentos e os custos, a melhoria dos diversos “índices”, a possível comparação com a concorrência e os mercados etc.
E também temos que lidar com “correções de curso”, como se acompanha em temas como os veículos elétricos, a velocidade da transição de “combustíveis”, o aquecimento global, as mudanças climáticas, desafios geopolíticos, “partidarização” de temas de sustentabilidade, migrações e refugiados – dentre outros.
Um dos principais pontos desse importante tema é que a questão das métricas ainda está em construção, e ainda não temos (e muito se questiona se um dia teremos) um padrão geral a ser seguido, nem mesmo no contexto de cada país, ou segmento, ou mercado – dada a enorme quantidade de aspectos a considerar em cada caso, e em cada organização.
A tentativa de se aplicar alguns critérios e metodologias já conhecidos, como de algumas grandes consultorias e certificadoras, nem sempre funciona, pois também “eles” são genéricos demais, ou focados em apenas alguns poucos itens, ou visando apenas “uniformizar” algum aspecto ou maneira de informar – o que na prática não “resolve” a questão de cada organização.
A própria quantidade de “certificadoras” que se apresenta atualmente já demonstra a complexidade desse aspecto, pois se a metodologia, os critérios e as aferições fossem “universais”, e aceitos por todos, nem precisaríamos de tantas opções.
De outro lado, mesmo no mercado de capitais, que tem buscado estabelecer alguns padrões de divulgação de informações, que permitam algum grau de comparação, para que os mercados e os investidores consigam tomar suas decisões de forma “melhor embasada”, os avanços ainda estão em construção.
No caso brasileiro, por exemplo, a própria Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já estabeleceu diversos requisitos e normas que precisam ser utilizados pelas companhias “listadas” no tocante ao E-ESG (com relação ao que se informa ao mercado), mas admitiu que a taxonomia ainda está em construção.
Os desafios são muitos, e precisamos encontrar maneiras e respostas para “ao menos” as demandas atuais, e neste breve artigo procuramos abordar alguns aspectos desse cenário.
Nesse contexto, literalmente “cada caso é um caso”, e por vezes até mesmo dentro da mesma organização/empresa os desafios, as características, os “gargalos”, e os resultados são diferentes, tanto em ternos de temas quanto de dificuldades, e ainda de urgência. Ou seja, eventuais avanços e gargalos mudam até mesmo na mesma empresa, demandando maneiras (ou critérios) diferentes de aferição.
Acompanhamos dezenas de casos em que uma mesma empresa tem situações sociais e ambientais a considerar em suas unidades (por vezes até mesmo dentro de um único estado) que variam enormemente de uma para a outra, de forma que as demandas, os indicadores, as possíveis métricas, a urgência de cada item, os investimentos e os resultados mudam muito.
Como, portanto, ainda não existe (e talvez nunca venha a surgir) uma metodologia única, e uma forma padrão de se aferir resultados, nem mesmo métricas universais, a recomendação atual tem sido pela adoção de um sistema duplo/misto de aferição.
Tanto quanto possível, alguns segmentos e setores corporativos estão tentando construir os seus próprios critérios e métodos de acordo com as suas características, propondo uma espécie de “auto-regulação” que contemple ao menos uma média do que se recomenda a cada mercado.
Essas iniciativas estão ocorrendo no mundo todo, e atualmente em diversos estágios de evolução, com a maioria ainda em grau inicial e outras já mais evoluídas – numa tentativa, também, de se encontrar um certo consenso.
Temos que acompanhar esse movimento, que consideramos positivo, para dele conseguirmos extrair ideias e sugestões, e também podermos analisar as propostas e os desafios específicos de cada setor e mercado.
E, simultaneamente, recomendamos, também, que cada organização procure identificar, com base na sua própria realidade, e conforme as suas características, desafios, demandas e prioridades, a sua forma de estabelecer e aplicar métricas, e de aferir resultados.
Dessa forma, e combinando os dois métodos acima apresentados (o setorial e o individual), trabalhamos para encontrar aspectos comparativos com a concorrência e o mercado em que cada organização atua, analisando os chamados “benchmarks”, e também as necessárias comparações com a própria realidade da organização ao longo do tempo (ou seja, acompanhando e comparando as evoluções no decorrer dos semestres ou anos – conforme se prefira, em cada caso).
E, ainda, no caso de atividades reguladas, ou sujeitas a normas setoriais e/ou de autoridades como a CVM e tantas outras, recomenda-se, que também essas normas sejam incluídas na avaliação “individual”, para que se consiga atender a todos os critérios necessários, orientando tanto a própria organização quanto os mercados e os investidores.
Esse conjunto de iniciativas e de métodos tende a orientar não apenas investimentos, prazos e programas, como as próprias organizações, suas áreas E-ESG (ou comitês), as auditorias internas e externas, e ainda os parceiros de cada empresa, sem contar que os clientes/consumidores e os investidores terão muito mais condições de analisar cada realidade e efetuar suas escolhas.
De forma mais específica e individual, temos recomendado às organizações que mapeiem todos os aspectos E-ESG que façam sentido na sua realidade (por vezes de maneira localizada, em cada unidade), identificando as suas demandas e prioridades, e criando os seus próprios itens e pilares a serem melhorados – e que se fixe o “marco zero” como ponto inicial/de partida (em cada item e caso).
Estabelecida essa “realidade de partida”, e conforme os valores e os propósitos de cada organização, bem como do grau de maturidade da governança corporativa e do “compliance”, bem como das determinações da alta gestão, dos recursos disponíveis, do cronograma estabelecido para as diversas “transições” que se façam necessárias, e das exigências regulatórias e de mercado, é preciso que se acompanhe a evolução.
Assim, e sem que se perca de vista os movimentos setoriais e mundiais da evolução E-ESG, bem como a evolução de legislação e de regulação (conforme aplicáveis), cada organização começa a criar e a construir as suas próprias métricas, os seus indicadores, e a sua maneira de aferir resultados, comparando a evolução “ano a ano” (por exemplo) – comparando-se com o seu mercado, mas também com a sua própria realidade.
Organizações melhores, são justamente as que ganham mais dinheiro, tem mais lucro, constroem mais valor e são mais sustentáveis, e que tem dentre as suas metas, serem melhores a cada ano (inclusive em relação a elas próprias). E essas questões precisam ser individuais em diversos aspectos.
Armadilhas que proponham soluções mágicas ou únicas, rápidas e fáceis, baratas, e universais, bem como certificações “ideais” ou completas, sempre existirão, mas as melhores práticas têm indicado que o caminho mais sustentável é o que contempla a realidade de cada organização, a sua cultura, o seu estilo, o seu propósito, a sua realidade, bem como a sua localização e a sua comunidade, os anseios e as demandas de seu grupo de colaboradores, e de todos os seus “stakeholders” (e dos seus “no-holders”), os seus recursos e os seus desafios.
Através da implantação de Programas E-ESG sérios e consistentes, coerentes e permanentes, buscando a melhoria contínua em todos os aspectos aplicáveis, que sejam integrados à estratégia e ao modelo de negócios de cada organização, os “resultados virão”; ajudarão muitíssimo às próprias organizações e os pilares de sustentabilidade socioambientais – que precisam ser atendidos, mas com o devido cuidado e considerando a cultura, os desafios e os recursos “de cada caso”.
Procure avaliar a sua organização com base nesses aspectos, e construir os indicadores, e as métricas, que melhor funcionem para a sua organização, em cada momento.
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