Visando transformar os treinamentos e discussões sobre os programas de compliance em um tema interessante, divertido e prático há alguns meses (e como resultado de um processo de coincidências que passam por ‘estudar programação de games’, ‘ir a uma feira geek’, ‘escrever um artigo sobre decisões éticas’) criei esse board game de simulação da gestão de Programas de Compliance e, desde então, tenho pensado em como fazer que ele fosse o mais útil possível para o maior número possível de pessoas e empresas. Até que durante o feriado de 1o de Maio resolvi colocar no papel (na realidade ‘na internet’) a ideia de disponibilizar todo o material do jogo sob uma licença Creative Commons.
De forma resumida o “Compliance Program – The Board Game” é o primeiro jogo de tabuleiro que simula a Gestão de um Programa de Compliance. Nele as jogadoras estão no papel da recém contratada Compliance Officer que tem a difícil, e interessante, missão de implementar do zero um programa de compliance efetivo para uma empresa fictícia. A Compliance Officer irá definir as estratégias para alocação dos limitados recursos do programa, além de lidar com as surpresas – tanto positivas quanto negativas – da rotina de uma empresa em processo de transformação.
Competindo entre si para ‘implementar’ o Programa de Compliance, temos diversos grupos formados por mais de uma jogadora que irão jogar o mesmo cenário, mas que tomarão decisões distintas em relação ao dia-a-dia da gestão do programa. A diferença entre as decisões dos diferentes grupos, adicionada a um pequeno fator de ‘sorte’ (ou azar) que representa os fatores incontroláveis da nossa rotina, irá levar cada um dos grupos por uma caminho distinto. O que parece ser uma boa decisão hoje poderá se mostrar desastroso num futuro próximo.
Assim, podemos, de uma maneira divertida, aprender como funciona a gestão de um Programa de Compliance na prática e enquanto jogamos (e nos divertimos), discutiremos desafios, problemas, preocupações, soluções, felicidades e todos os outros componentes da, nada aborrecida, vida de uma gestora de Programas de Compliance.
O público alvo primário para o qual o jogo foi desenhado é formado por profissionais de compliance em formação ou com pouca experiência, com os quais podemos fomentar discussões sobre a gestão geral do programa de compliance. Podemos também pensar em utilizar o jogo para um público-alvo secundário, que seria formado por profissionais de outras áreas das empresas, especialmente alta e média gestão, para que possamos mostrar a eles o que significa gerir um programa de compliance, os aspectos técnicos com os quais nos preocupamos, os impactos da cultura da empresa no programa e, talvez o mais importante, discutir o impacto das ações e das palavras de cada um dos diversos ‘players’ de uma empresa.
Para que todas possam conhecer, testar, utilizar e compartilhar os benefícios do “Compliance Program – The Board Game”, criei a seguinte página no FB https://www.facebook.com/ComplianceProgramTheBoardGame/ onde disponibilizo tudo o que você precisa para ‘jogar’. Todo o material está disponibilizado de forma gratuita, sob uma licença Creative Commons – Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional (CC BY-NC-SA 4.0). Esta licença permite que outros remixem, adaptem e criem a partir deste trabalho para fins não comerciais (remunerados ou não), desde que atribuam ao autor (Alexandre C. Serpa) o devido crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos a esta licença.
Além disso, estarei disponível para discutir sobre o material via própria página do jogo ou no email [email protected]
Aproveite, divirta-se, compartilhe, comente.
A história por trás do jogo…
A história de como esse jogo nasceu é uma boa ilustração do princípio de que quanto mais experiência e conhecimento tivermos, mais fácil será para inovarmos e criarmos conexões novas entre temas, inicialmente, desconexos. Isso pode ser ilustrado com a analogia de que ‘conhecimento é como um sistema de andaimes, no qual quanto mais estrutura há, mais fácil fica aumentar a estrutura do andaime, pois há mais pontos de conexão e mais estabilidade e base para o aumento’.
Posso dizer que o primeiro passo foi minha esposa decidir colocar meu filho para estudar programação de games (não para que ele ficasse rico desenvolvendo games, mas para aprender uma habilidade nova – ‘coding’) e eu, para poder ajudá-lo a entender alguns conceitos e ver onde estava errando nas suas tarefas de casa, começar a programar alguns games eu mesmo (vale citar que foram games muito básicos, baseados nos tutoriais das ferramentas e, também, que eu sou um cientista de computação por formação). Algum tempo depois a escola de programação entregou convites para uma feira Geek aqui em São Paulo e durante nossa visita à feira, meu filho e eu ficamos algum tempo em uma zona de demonstração de jogos de tabuleiro (jogamos alguns jogos e até comprei um – Azul) e eu voltei a lembrar que, mesmo não jogando muito, gosto bastante deste tipo de passatempo (há algo em brincar com jogos tangíveis, físicos, com peso nas peças, que acredito tocar no nosso mais básico nível cerebral de aprendizado).
Em paralelo a tudo isso eu dedicado a uma outra atividade que me traz satisfação e escrevia um texto, que acabou por se transformar num dos capítulos do livro que do LEC Mastermind, a ser lançado agora em Maio durante o 7o Congresso Internacional de Compliance, sobre Tomada de Decisão Ética e pensei “Por que não transformar o artigo em um jogo de computador ou de tabuleiro?” Decidi então fazer alguns rascunhos de alternativas e optei por fazer o jogo de tabuleiro e não um jogo eletrônico (por conta da possibilidade de ter algo tangível como produto final, que satisfará o engenheiro frustrado que existe dentro de mim). Próximo passo foi então estudar sobre o que há por trás da criação de jogos de tabuleiro, o que consegui lendo alguns livros disponíveis no Kindle Unlimited (que assino para alimentar meu outro vício – leitura, especialmente de sci-fi).
Após ler os livros sobre a criação de jogos de tabuleiro, acabei entendendo que minha ideia original – criar um jogo sobre tomada de decisão ética – não seria tão interessante do ponto de vista da mecânica do jogo e, após pensar por alguns dias, decidi mudar o tema para ‘gestão de um programa de compliance’. Como todo bom projeto criativo, tudo ficou em ‘background’ na minha cabeça por um bom tempo, e quando minha mente ficava livre, pensava em como fazer, o que seriam boas representações do nosso dia-a-dia, como jogar etc, mas nada concreto era gerado. Foi quando que em uma noite insone (felizmente essas se tornaram muito raras) decidi esboçar no papel o tabuleiro e as regras. Algumas horas depois eu tinha uma boa parte do jogo ‘terminada’.
Como uma das etapas do desenvolvimento de jogos de tabuleiro é ‘jogar’ e ‘colocar amigos para jogar’, fiz alguns testes eu mesmo e recrutei alguns amigos para me ajudarem – no que devo enfatizar a grande ajuda com muitos pontos de melhoria que o Andre Cruz me passou após testar o jogo em detalhes, e a ideia de adicionar um componente de ‘sorte’ no jogo que veio do Daniel Sibille e do Marcio Kalay, que a princípio resisti, mas que se mostrou perfeita no jogo finalizado – e ajustei o que precisava ser ajustado no jogo. Alguns testes de campo em turmas de compliance da LEC e da FIA e o jogo estava “pronto”.
O que fica de importante pra mim nessa história (resumida) é que todos devemos experimentar e expandir nossos horizontes, pois nunca sabemos o que poderemos criar com conhecimento e informação que, a princípio, parecem desperdício de nosso tempo. Também, pense que todas as suas ideias são válidas e podem ser boas, independentemente da sua, ou de outros, primeira avaliação da mesma. Coloque a ideia em prática, crie um protótipo e coloque à prova, e com os resultados da prova você poderá então tomar uma decisão de desistir, continuar ou continuar com mudanças (não preciso dizer que isso não vale para ideias que são perigosas ou ilegais logo de cara). Também, divida sua ideia com outros, escute o que eles têm a falar, não rejeite nenhum feedback pois todos eles têm seu lugar (mesmo que você já tenha tentado e não tenha dado certo, não seja negativo com quem te deu o feedback), pois você melhorará sempre a sua ideia original (se você tem medo de que te roubem a ideia, deixe o medo de lado ou troque de amigos).
Tente, experimente, erre, erre, erre e acerte.
Alguns detalhes técnicos:
– Seguem detalhes técnicos sobre o “Compliance Program – The Board Game”
- Quantidade de jogadores: de 2 a 6 grupos compostos por de 2 a 6 jogadores. Os diferentes grupos competem para serem os primeiros a implementarem o programa
- Tempo de jogo: de 90 a 120 minutos
– Este é o material requerido:
- Um computador e um projetor
- Um tabuleiro impresso por grupo
- Tokens em quantidade suficiente para os grupos (sugestão de 40 tokens azuis, 6 tokens vermelhos, 6 tokens verdes, 6 tokens laranja)*
- Um ‘quick ref card’ impresso por grupo (opcional)
* Você pode comprar as peças do jogo no site https://www.ludeka.com.br/ ,mas você pode usar o arquivo “TOKENS” para imprimir suas pecinhas, ou usar qualquer outro tipo de peças.
Alexandre C. Serpa, sou um profissional de compliance que crê no crescimento ordenado e qualificado da profissão de compliance no Brasil e no mundo. Tem satisfação em estudar e discutir o tema, dar aulas, escrever (livro https://www.amazon.com.br/Compliance-Descomplicado-simples-Programas-Portuguese-ebook/dp/B01DH79EH2) e criar materiais de ajuda e suporte como este board game.