À frente da operação brasileira da Coty, uma das maiores fabricantes de produtos de beleza do mundo, Nicolas Fischer sabe da importância da sua atuação para a manutenção de um ambiente de integridade na companhia.
Uma das maiores companhias de beleza do mundo com vendas anuais acima dos US$ 6 bilhões, a Coty tem um portfólio de marcas que inclui perfumes de grifes como Calvin Klein, Boss e Burbery, além de marcas locais que fazem parte da história de milhões de brasileiros como Bozzano, Monange e Risqué. À frente da operação brasileira da Coty desde a compra da divisão de consumo da Hypermarcas, da qual era presidente, o alemão Nicolas Fischer sabe da importância de um ambiente de trabalho e negócios íntegro e justo para a construção de uma companhia sustentável. Nesta entrevista à revista LEC, ele compartilha mais sobre a sua visão sobre o papel que desempenha e a importância do Compliance para a companhia.
Como líder, qual o tom que você busca dar ao papel da área de Compliance na empresa?
Para nós, da Coty, a área de Compliance tem papel fundamental para construirmos uma companhia sustentável e íntegra. O Compliance permeia todas as atividades da empresa, o que garante a integridade de todos os nossos processos e operações. É também uma garantia para nossos consumidores, que podem ter a certeza de que nossos produtos foram produzidos sob rigorosos padrões e normas, assim como em todos os processos globais da Coty.
Um CEO tem também significativo papel na criação da cultura organizacional. É ele quem define o tom a ser seguido e influencia comportamentos. É o profissional que deve guiar os colaboradores criando modelo ético para alcance dos objetivos e metas do negócio. Deve protagonizar comportamentos que incentivam boas práticas, mostrando o quanto o respeito, tanto por processos quanto ao próximo, são fundamentais. Um ponto importante é atuação no dia a dia com transparência, direcionamento claro e sempre com abertura para todos possam se expressar – isso vale para todos os níveis da empresa.
Nós, líderes das organizações, somos responsáveis não só no sentido de conduzirmos negócios éticos, mas também de contribuirmos para que todos os colaboradores vivenciem esse tipo de comportamento, contribuindo também para uma sociedade mais justa e ética.
Como a cultura de Integridade tem sido disseminada para os funcionários da Coty?
A criação de cultura organizacional é um processo complexo, no qual entre diversos outros também relevantes aspectos, se rompe o receio de utilização dos canais diretos de Compliance. E, o papel do CEO, juntamente com o Compliance Officer e o comitê interno de ética, é agir de forma a tornar essa jornada positiva para todos.
Promovemos um ciclo virtuoso, movido à base de regras claras, gestão transparente, reconhecimento às boas práticas e aos comportamentos que de fato espelham os valores da companhia, cultivando ética, integridade e respeito acima de tudo. Não queremos, de forma alguma, uma “cultura do medo” – ao contrário, é nosso dever mostrar que consultas ou denúncias de boa-fé são sempre muito bem-vindas e apreciadas pela companhia.
Nós procuramos realizar uma série de ações que transmitam nossos princípios e valores, além de comunicarmos em nossas newsletters e town halls de forma que, pouco a pouco, a cultura de Compliance permeie de forma orgânica o dia a dia de nossos colaboradores. Todos os nossos líderes recebem constantes treinamentos e reciclagem no que diz respeito a Compliance, atuando como multiplicadores dessa cultura de transparência e compromisso com o resultado, com os colegas e com os processos.
O apoio ao Compliance costuma ser algo bastante presente nos discursos de líderes empresariais. Mas, o apoio de verdade só costuma ser testado de verdade na hora em que a área aponta uma bandeira vermelha ou não permite que um determinado negócio seja feito, impactando nos resultados da companhia ou no relacionamento com clientes. E, situações como essa acontecem, por diferentes motivos, em todas as empresas. Você pode compartilhar alguma situação na qual precisou decidir sobre situações realmente críticas que, de alguma forma, opusesse a posição do Compliance com a de outra área na empresa?
A cultura da Coty e nossas regras de Compliance são muito sólidas em todo o grupo, globalmente. Assim, todos estão muito alinhados em relação aos limites que essas normas nos colocam e à importância de cada uma delas. Então, não identifico nenhum caso crítico nesse sentido para comentar. Estamos todos muito afinados em relação a isso.
Qual o seu approach para lidar com red flags apontadas pelo Compliance e que podem impactar o modo como a área comercial opera hoje, ou interferir num determinado tipo de relacionamento/operação com clientes? Você acata a decisão do Compliance de primeira, sem pestanejar? Ou busca questionar o porquê daquele apontamento, se existem alternativas para mitigar os riscos?
As regras da empresa são muito claras, algo que nos permite ter tomadas de decisões sem hesitação. Mesmo em questões que possam parecer complicadas, sabemos quais são as diretrizes da empresa e como agir com ética e transparência.
Você pode contar um pouco sobre como é o relacionamento entre você e a Juliana Rodrigues, Compliance Officer da Coty?
Temos um ótimo relacionamento. Como ambos estamos muito cientes de nossas responsabilidades, no sentido de manter a empresa operando em conformidade com as normas globais, tudo fica mais fácil.
Entendo ser fundamental garantir independência e autonomia aos profissionais de Compliance. E nós, como líderes das organizações, temos realmente que viabilizar isso – independência e autonomia, sempre! Por outro lado, cabe ao Compliance Officer relacionar-se de forma bem próxima com todos na organização, fazendo com que sua presença seja efetiva e constante, pois exerce papel fundamental na jornada de construção de uma companhia sustentável e íntegra.
Considero bom exemplo disso uma prática adotada como rotina na Coty: tenho touch points com a área de Compliance pelo menos duas vezes ao mês. O objetivo dessas reuniões não é supervisionar ou controlar o trabalho, mas sim identificar temas nos quais eu, como líder da companhia, posso apoiar área. E esse tipo de dinâmica é refletida na forma como conduzimos o dia a dia da empresa, consequentemente refletindo em nossa cultura organizacional.
A cadeia de abastecimento da Coty é bastante grande, abarcando centenas de fornecedores diretos e indiretos. Como a companhia atua para que esses fornecedores estejam alinhados aos seus valores e a sua política de integridade?
A companhia tem critérios bem definidos que precisam ser atendidos para que um fornecedor esteja habilitado a trabalhar com a Coty, que inclui diversas instâncias, inclusive Compliance. Esse é um esforço prévio, trabalhoso, mas que nos permite ter a certeza de que vamos operar com empresas sérias, que entregam o que prometem e cumprem todos os protocolos necessários.
Olhando para a outra ponta do negócio de vocês, o varejo, a Coty tem políticas específicas de Compliance para o seu time comercial sobre como se relacionar com os clientes, tanto em termos de destinação de verbas, como no relacionamento do dia a dia com compradores e tomadores de decisão? E como a Coty busca criar um ambiente de negócios mais justo, inclusive do ponto de vista concorrencial, dentro do mercado de beleza?
Na Coty, atuamos de forma bastante próxima aos nossos clientes e, para que possamos garantir que todo o time de Vendas esteja alinhado com nossas políticas, aproveitamos todas as oportunidades possíveis para realizar treinamentos sobre o que podemos ou não fazer como companhia, bem como sobre como devemos nos comportar em relação aos demais players do mercado.
Exemplo disso são os treinamentos que realizamos durante convenções nacionais de Vendas, ação que é bastante efetiva. Uma outra iniciativa que apresentou resultados positivos foi a criação de um comitê multidisciplinar que analisa os investimentos de trade para garantir o cumprimento das políticas.
Influenciadoras digitais são hoje um elemento bastante comum à indústria de beleza. Mas, também, uma nova fonte de riscos de imagem para as marcas, uma vez que elas podem se ver envolvidas em uma série de situações que podem manchar sua imagem e a das marcas parceiras dela. Como vocês lidam com isso na Coty? Isso é algo que também tem relação com o Compliance da empresa?
Procuramos trabalhar com influenciadores – digitais ou não – que representem os valores da empresa e de nossas marcas. Nossas áreas de Corporate Affairs / Comunicação e de Marketing fazem um ótimo trabalho no sentido de entender quais perfis estão em linha com nossos objetivos e com o que acreditamos.
Você pode compartilhar alguns dados referentes ao canal de denúncias da empresa? Os funcionários têm sido incentivados a utilizar o canal?
Todos os colaboradores, ao ingressarem na companhia, recebem treinamento sobre nosso programa de Compliance #behavebeautifully. Neste momento, são informados sobre todas as formas que o time de Compliance pode ser acessado, inclusive via nosso canal de denúncia. De tempos em tempos, reforçamos o tema em nossos canais de comunicação, bem como em momentos de conversas com nossos colaboradores, como em town halls.
Como se dá o processo de investigação e, eventualmente, de punição por infrações ao código de conduta da Coty? Existem instâncias colegiadas, como um comitê de ética, para aplicar as medidas disciplinares?
Todos os casos são rigorosamente investigados, de acordo com nossas diretrizes internas e processos globais.
Falando um pouco sobre diversidade & inclusão, como esse tema é tratado na Coty BRASIL? A empresa tem uma área específica para lidar com o tema? É qual o papel que a área de Compliance exerce em relação a esse tema?
Atualmente, todas as empresas estão em uma jornada de aprendizado sobre esse tema. E não é diferente para nós. Acreditamos que a diversidade, em todas as suas nuances, traz muitos ganhos para o negócio; ideias e experiências diferentes nos ajudam a inovar.
Na Coty, temos como um dos principais objetivos valorizar nossas pessoas. Para isso, é primordial oferecermos boas condições de trabalho, disponibilizando recursos e ferramentas para que todos, igualitariamente, possam desempenhar suas atividades. Assim, fomentamos uma cultura justa, com espírito de colaboração e evolução – algo que estimula contínua melhoria e desenvolvimento de nossos profissionais.
Publicado originalmente na edição 30 da revista LEC.
Imagem: Freepik