Toda empresa que possui algum tipo de contratação, seja de recursos, insumos ou serviços, é dependente de uma cadeia de fornecimento eficaz e econômica. A gestão dos riscos que possam impactar esta cadeia deve estar na agenda dos executivos das organizações.
Usando esta afirmação como ponto de partida, este artigo irá mostrar alguns dos elementos para a gestão de riscos dos fornecedores.
Primeiramente, vamos comentar alguns itens tradicionais da relação entre fornecedores e contratantes. Começando com o cadastro de dados, que envolve os aspectos administrativo-financeiros, como pagamentos. Com a homologação administrativa financeira, certidões são verificadas, como Certidões Negativas de Débitos, Guia da Previdência Social, Situação na Receita Federal entre outros. Adicionado a isso, temos as verificações de questões ligadas a riscos reputacionais, diligências relacionadas a fraudes, partes relacionadas, lavagem de dinheiro etc. Sem contar toda a parte de homologação técnica, que envolve comprovação de capacidade por meio de certificados da empresa e colaboradores. Tudo isso vem se sofisticando por meio de ferramentas que checam dados públicos de forma automática, customizados de acordo com o risco da categoria, possibilitando checagens de forma recorrente.
Sem deixar de considerar a relevância dos aspectos acima, podemos dizer que a ordem hoje na relação fornecedor-contratante é Colaboração e Sustentabilidade. Olhar os impactos socioambientais e de governança é uma demanda que está na pauta ESG e faz com que empresas avaliem esses aspectos de seus parceiros. E neste ponto reforça-se a ligação de toda a cadeia de suprimentos: o problema de um gera problemas de imagem e reputação para outros. Estudos mostram que 2/3 do footprint ambiental, social e de governança da média das empresas está nos fornecedores. Esse olhar também passa por uma demanda regulatória. Na Alemanha, recentemente foi aprovado o “Supply Chain Due Diligence Act”, que obriga as empresas a estabelecer procedimentos de due diligence nas cadeias de suprimentos globais para proteger os direitos humanos e o meio ambiente.
Sobre a colaboração, podemos citar que a pandemia ajudou a “separar o joio do trigo” na relação fornecedor x contratante, identificando aqueles que se aproveitaram da situação para inflar de forma descabida preços de seus produtos e serviços. Relações estremeceram, ou por outro lado, se fortificaram.
Essa situação adversa, também exigiu que compradores e áreas de negócio exercitassem suas criatividades. O que foi visto como um risco, depois de se olhar o copo meio cheio virou uma oportunidade: busca por outros fornecedores, insumos alternativos, serviços no lugar de produtos. Tudo isso surgiu de um cenário de instabilidade e gerou ótimas oportunidades na relação fornecedor-contratante. Por isso, não devemos falar somente de riscos, mas também das oportunidades.
Para exercitar uma relação saudável sem deixar de monitorar riscos, listamos algumas dicas:
- Estabeleça o equilíbrio adequado ao selecionar um fornecedor: fatores como tempo, custo, qualidade e risco são considerados quando se seleciona os fornecedores. Deve-se questionar quando se enfatiza um ou dois fatores sobre os demais. Por exemplo: buscando reduzir custos de compras, aceitar itens que não cumprem as especificações de qualidade.
- Tome as decisões de suprimentos sob a perspectiva de toda a empresa: por exemplo, P&D e compras podem atuar em conjunto para trazer alternativas de insumos.
- Assegure que o acordo com os fornecedores seja bem detalhado: um contrato bem escrito define com clareza o escopo, os objetivos, as especificações e os resultados esperados, estabelecendo as bases para a monitoração contínua.
- Espere o mesmo nível de responsabilidade de seus fornecedores: padrões de conduta que as empresas esperam de seus colaboradores, gestores e executivos, também devem ser alinhados com a sua rede de fornecedores.
- Realize auditorias periódicas dos fornecedores: auditorias podem focar em questões sociais, segurança da informação, desempenho de fornecedor em relação às especificações do contrato e conformidade com leis e regulamentação.
- Monitore os riscos e o desempenho ao longo do ciclo de vida do contrato: segmente a base de fornecedores em fatores como spend e criticidade, para que direcione o nível de due diligence, a estratégia de contratação e o nível e frequência de monitoramento. E lembre-se que o ambiente de risco não é estático ao longo do ciclo de vida do contrato.
- Atente-se ao risco de continuidade dos negócios: analise o que poderia acontecer se qualquer componente chave da cadeia de suprimentos faltar e quais suas implicações.
O processo de avaliação de riscos das organizações deve considerar o que aconteceria se ocorresse a perda ou a exposição de um fornecedor. A ordem é colaboração, visto que as empresas dependem da sua cadeia e devem buscar relações positivas. Mas manter-se atento aos riscos dessa cadeia reforça a boa relação entre fornecedor- contratante que se deseja construir.
Por Daniela Mamede Coelho