O primeiro dia do LEC Experience LATAM foi marcado pela entrevista concedida por Richard Bistrong para a querida Juliana Rodrigues. Sem sair de casa, tive o privilégio de poder ouvir uma das vozes mais relevantes da atualidade, graças ao time da LEC, que segue promovendo educação de qualidade em Compliance, mesmo em tempos de distanciamento social.
Por que é tão importante ouvir o que Richard Bistrong tem a dizer? Por causa de sua perspectiva singular sobre o assunto. Richard conheceu o sucesso na área de negócios, tendo superado consistentemente suas metas comerciais, até que um dia a maneira pela qual obtinha seus resultados provou-se ilegal. Ele pagou o preço com sua reputação – pela exposição de seus atos ilícitos – e com a própria liberdade.
Richard colaborou com as autoridades norte-americanas, foi condenado, cumpriu pena de prisão e há anos dedica-se a reviver sua dolorosa experiência, compartilhando-a com franqueza em seu blog richardbistrong.com/blog/ e participando de eventos como este da LEC.
Com isso, seu objetivo é evitar que outras pessoas passem pelo que ele passou, oferecendo a visão de quem esteve na linha de frente dos negócios e das consequências de suas escolhas erradas.
Resumo a seguir 20 lições compartilhadas por Richard em sua entrevista:
Compliance durante a pandemia
- Não existe pausa de Compliance.
- O distanciamento social não significa o distanciamento do Compliance.
- Em tempos de crise, “não ter notícias” não significa uma boa notícia.
- Quando você achar que já fez o suficiente em termos de Compliance, é hora de fazer um pouco mais.
- Reconheça que em tempos de mudança e incerteza, o foco das pessoas passa a ser “eu, eu, eu”.
Sobre seu desvio de comportamento e como ele poderia ter sido evitado
- Trapacear é sempre uma escolha. Racionalizações formam uma tempestade perfeita.
- Não deixe que as pessoas pensem que a empresa tem que sacrificar a ética para ter sucesso.
- Compliance deve sempre manter os canais de comunicação abertos. Não há necessidade de treinamentos sofisticados, reuniões presenciais ou virtuais. Basta pegar o telefone e perguntar às pessoas como elas estão.
- Quanto mais o Compliance estiver conversando com os outros, agindo como um parceiro de responsabilidade antes dos problemas ocorrerem, mais chances há das pessoas buscarem o Compliance quando enfrentarem dilemas.
- O Compliance deve se fazer conhecido pelas pessoas, para que elas pensem que “os únicos problemas com os quais o Compliance não pode me ajudar são aqueles que eu estiver mantendo para mim mesmo”.
- Mensagens ambíguas da liderança são muito perigosas, principalmente neste momento, pois as pessoas podem estar se sentindo incertas quanto ao que fazer.
- As mensagens devem ser claras sobre o comportamento esperado; soam muito mais alto vindo – constantemente – através da voz do negócio.
- Esteja atento aos vieses de “confirmação” e “conformidade”: em tempos de dúvidas, as pessoas tendem a se voltar para seus pares, aqueles que estejam enfrentando os mesmos problemas, perdendo a confiança na liderança com a mentalidade de “eles não sabem como é o mundo aqui fora”.
- Deixe as pessoas saberem que não há problema em ficar confuso e que está tudo bem pedir ajuda.
- Incentivos e metas são como medicamentos: todos geram efeitos colaterais. O Compliance deve estar sentado à mesa quando as metas são definidas, avaliando os riscos e entendendo se os efeitos colaterais serão de natureza ética.
- “Ouvi muitas palavras para descrever um suborno. O que eu nunca ouvi foi a palavra suborno”. É importante que as pessoas entendam o que é o comportamento corrupto.
- Muitas pessoas têm dificuldade em admitir que estão tendo desafios para atingir suas metas de negócios.
- É preciso uma aldeia para fazer algo certo e é preciso outra aldeia para fazer algo errado. Entenda a complexidade dos negócios com visão holística.
- Não seja a única pessoa em sua empresa falando sobre Compliance.
- Faça com que os líderes de negócios entendam o poder de suas vozes quando falam de valores, poder maior que as funções de apoio e controle. Esta é a melhor maneira de inspirar a força de trabalho.
Richard ainda recomendou dois livros:
- The Fearless Organization – Amy C. Edmondson – Harvard Business School
- Giving Voice to Values – Mary C. Gentile – Yale University Press
Com estas lições, lembrei-me do mito grego de Sísifo, cuja punição dos deuses foi rolar uma pesada pedra até o alto de uma montanha, apenas para ter que começar tudo de novo no dia seguinte e assim por toda a eternidade.
A missão de cultivar uma cultura de integridade corporativa assemelha-se à de Sísifo: é árdua, diária e parece não ter fim. Mas as lições de Richard Bistrong mostram que o Compliance não precisa e nem deve agir sozinho, trazendo os líderes de negócios para ‘empurrarem a pedra para o topo’ ao seu lado.
Christina Montenegro Bezerra – Executiva de Ética & Compliance | Fortalecendo cultura de integridade corporativa | Empoderando pessoas e empresas para fazerem a coisa certa.
Imagem: LEC Experience LATAM