Em preparação para o LECCAST # 57 (Carreira Internacional), decidi listar algumas dicas para sugerir para audiência e o resultado será apresentado a seguir: uma lista com dez dicas para os profissionais de compliance que desejam trilhar uma carreira internacional.
Antes de começar, gostaria de registrar que sempre investi muito em estudo e desde cedo, conforme alguns exemplos a seguir: no primeiro ano do curso de direito na PUC/SP eu batalhei uma bolsa-empréstimo da Caixa Econômica Federal. Quando me mudei para Boston levei comigo todas as minhas economias (as quais seriam originalmente destinadas para comprar um imóvel) e as utilizei para pagar um LL.M. em Direito Americano na Boston University, School of Law. E quando recebi meu primeiro bônus depois de ter assumido como Head de Legal & Compliance na Medtronic paguei à vista por um curso de MBA Executivo em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios na FGV.
No entanto, ter uma boa condição financeira atualmente já não é determinante para se ter sucesso em uma carreira internacional – óbvio que se tiver recursos, isso ajudará, mas com o advento da internet hoje há muito material de qualidade e de domínio público disponível para consulta. Foi-se o tempo em que somente quem tinha uma boa condição financeira aprendia, por exemplo, um idioma.
O que é preciso é ter muito foco e disciplina, pois equilibrar as vidas profissional e pessoal e ainda se dedicar a aprender novas habilidades, uma nova profissão, um novo idioma, etc, não é tarefa fácil.
Sem mais delongas, passemos à prometida lista de dez dicas para quem busca uma carreira internacional em compliance:
1. ESTUDE, ESTUDE, ESTUDE
Sim, estude muito. Sugiro que comece pesquisando sobre compliance na internet. Eu começaria acessando o site da LEC e conhecendo o conteúdo disponível – e se possível participando dos congressos por ela organizados (lembrando que nem todos são pagos). Há muita literatura disponível na internet, é só você pesquisar que encontra. Se puder investir, a LEC oferece diversos cursos interessantes para iniciantes e sei por colegas que lecionam nesses cursos que vários alunos têm conseguido se colocar no mercado depois de concluírem esses mesmos cursos. Lógico que não é uma garantia: existem diversos fatores que fazem com que um(a) candidato(a) seja selecionado(a), e esse é apenas um deles.
2. ASSOCIE-SE
Busque se associar a grupos ou programas relevantes: seja de estudos de compliance, seja de networking, de benchmarking, etc. Você também pode se acercar das associações relevantes à indústria que a empresa para a qual trabalha pertence, de forma a verificar se eles têm, por exemplo, um comitê de ética e tentar fazer parte deste comitê. Internacionalmente existem, por exemplo, a SCCE (Society of Corporate Compliance & Ethics), a ACFE (Association of Certified Fraud Examiners), e a ACAMS (Association of Certified Anti-Money Laundering Specialists). O importante é que sejam grupos ou associações que façam sentido para você e/ou para a empresa onde você trabalha. E prime pela qualidade sobre a quantidade.
3. CERTIFIQUE-SE
Busque também uma certificação, pois isso pode ser um grande diferencial para o recrutador. No Brasil eu sei que a LEC prepara alunos para obterem certificações diversas em compliance, como por exemplo a CPC-A (Certificação Profissional em Compliance Anticorrupção) e a CPLD-FT (Certificação Profissional em Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo). E se quiser e puder, você também pode buscar uma certificação internacional que faça sentido para a sua área de atuação. Alguns exemplos de certificações internacionais são a CCEP (Certified Compliance and Ethics Professional), a CCEP-I (Certified Compliance and Ethics Professional-International) e também a certificação CFE (Certified Fraud Examiner).
4. SEJA FLUENTE EM OUTROS IDIOMAS (E CONHEÇA OUTRAS CULTURAS)
Um outro ponto importante: se a sua proficiência no idioma inglês não for muito boa, invista tempo e energia para se tornar fluente em uma segunda língua, nesse caso a inglesa! Há muito material sobre compliance em inglês, e mesmo que você não precise falar um segundo idioma no seu trabalho atual, ser fluente poderá ajudá-lo(a) a entender esse material mais facilmente, e também a ter um diferencial quando quiser buscar uma recolocação. Não adianta você dedicar duas horas por semana tendo aula de inglês se não fizer algum esforço adicional: além de escutar muita música, ler muito e assistir filmes em inglês, você também pode procurar esses e-learnings (como por exemplo o Rosetta Stone): você pode ouvir aulas de inglês enquanto dirige ou cozinha, por exemplo… Assistir a filmes em inglês com legendas em inglês, ao invés de português, também ajuda muito. Eu tinha muita dificuldade para entender os nativos da língua inglesa, já que falam muito rápido e essa prática me ajudou bastante, pois nos filmes ninguém fala devagarzinho, não é mesmo? E se você conseguir se tornar fluente em espanhol, melhor ainda – nesse caso, sugiro que adote para a melhoria da sua proficiência em espanhol todas as dicas que acabei de passar para melhorar sua fluência em inglês… e sempre antes de viajar, pesquise antes sobre a cultura do local. Esse hábito poderá livrar você de situações embaraçosas.
5. BUSQUE UM(A) MENTOR(A)
Uma outra dica que acho muito valiosa é, se possível, buscar um mentor, ou seja, uma pessoa da área que você admira e que esteja disposta a compartilhar seu conhecimento e apontar soluções que podem representar um bom atalho na carreira de quem tem pressa. As pessoas que já galgaram altos postos podem se realizar compartilhando conhecimento – eu me realizo. A propósito, após a veiculação do LECCAST mencionado tenho sido procurada por colegas pedindo dicas e fico genuinamente feliz em ajudar. Só peço um pouco de paciência, pois nem sempre consigo dar um retorno imediato.
6. BUSQUE UM(A) COACH
Algo que foi para mim extremamente importante em um momento muito crítico da minha vida: ter um coach. Ele(a) vai fazer com que você reflita e busque as respostas para suas inquietudes, além de fazer você perceber o quão especial você deve ser. Você já viu algum esportista de alta performance, como por exemplo um jogador de futebol ou de vôlei sem treinador?? Eles sabem extrair o melhor dos jogadores com quem trabalham, pense nos casos de sucesso que temos por exemplo com o Bernardinho treinando a nossa seleção masculina de vôlei? E ele até hoje dá palestras motivacionais.
7. NÃO ABRA MÃO DOS SEUS VALORES
Trabalhe apenas com empresas que compartilhem dos seus valores: acredite, não é sustentável trabalhar em um ambiente cujos valores sejam diferentes dos seus. Por exemplo: se você preza pela ética e integridade trabalharia em uma empresa que sabidamente não reza pela mesma cartilha?… Não abra jamais mão dos seus valores, isso pode lhe custar caro.
8. CONHEÇA SEU FUTURO EMPREGADOR/CHEFE
As empresas não pesquisam sobre os candidatos antes de contratá-los? Por que não fazer o mesmo em relação às empresas e aos chefes antes de aceitar uma oferta de trabalho? Às vezes idealizamos trabalhar em uma determinada empresa e nem podemos imaginar que nela existe uma cultura tóxica, que nela o programa de compliance é ‘de fachada’ ou ainda que seu futuro chefe é uma réplica da personagem Miranda Priestly interpretada por Meryl Streep em “O Diabo Veste Prada”… a dica aqui é: busque referências com quem já trabalhou ou trabalha nessa empresa e se possível com seu futuro chefe, isso poderá evitar muita dor de cabeça.
9. SAIBA EM QUEM CONFIAR
Essa dica serve para qualquer situação, na verdade. Na minha vida profissional eu já me decepcionei com algumas pessoas que eu tinha grande respeito e admiração. Por outro lado eu também me surpreendi muito positivamente ao encontrar o que chamo de ‘anjos’ que cruzaram pelo meu caminho: pessoas despretensiosas que me estenderam a mão, me acolheram e me direcionaram quando eu menos esperava (e muito necessitava!). Saiba distinguir e aproveite essa dica para começar a ser um ‘anjo’ na vida de alguém quando a oportunidade aparecer: você se surpreenderá sobre como o Universo responde quando temos a oportunidade e ajudamos alguém!
10. COMPARE SUA CARREIRA A UMA CORRIDA DE RUA
Quem me conhece sabe que correr é uma das minhas grandes paixões, e eu aprendi muito com a corrida nesses últimos 13 anos em que inseri a corrida na minha vida. Por exemplo: sempre haverá quem esteja em melhor forma, mas também sempre haverá quem esteja em pior forma que você, e todos seguem correndo. Você não sabe o que aquele(a) corredor(a) que lhe ultrapassou fez para ter um desempenho melhor do que o seu, quais foram as suas lutas, há quanto tempo ele(a) treina, as lesões que já sofreu, o que fez para fortalecer seus músculos, a sua alimentação, etc, então não se sinta diminuído(a) quando alguém lhe ultrapassar e foque na SUA corrida, ou seja: foque na SUA carreira, não na dos outros.
Espero que as dicas acima possam de alguma forma contribuir para que você alcance os seus objetivos: se as seguir com disciplina acredito que terá boas chances de alcançá-lo. Sucesso na sua empreitada, um grande abraço!